E me chamas estrangeiro
porque cheguei aqui por um caminho que não conhecias, porque nasci em outra
cidade, e conheci outros mares.
Chamas-me estrangeiro porque
não estás acostumado comigo, já que eu zarpei de um porto distante, e tu pensas
que as despedidas existem apenas para que se agitem lenços e se encham de
lágrimas os olhos, e acreditas que, quando se vai para longe, todos pensam
apenas no dia do regresso e nas orações que os entes queridos ficam repetindo,
dia após dia, anos a fio.
Mas eu não sou estrangeiro. Porque despertei em minha alma o que antes não conhecia, e descobri que todos os homens são iguais, que houve uma época em que o mundo não tinha fronteiras.
Todos nós trazemos o mesmo grito, as mesmas perguntas, o mesmo cansaço das viagens muito longas.
Os que dividem, os que dominam, os que roubam, os que mentem, os que compram e vendem nossos sonhos, são eles que inventaram esta palavra: Estrangeiro.
Olha-me no fundo de meus olhos, além do teu ódio, do teu egoísmo, do teu medo, e verás que sou apenas um homem, que precisa de tua ajuda.
Não posso ser, nunca fui um Estrangeiro.
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