Os efeitos do escândalo envolvendo o "News of the World" serão breves e não afetarão o sucesso dos tabloides - nem na Inglaterra, nem nos Estados Unidos.
A opinião é do jornalista norte-americano Philip Meyer, autor do livro "Os Jornais Podem Desaparecer?" (editora Contexto).
Após a revelação de que o "NoW" fazia escutas telefônicas ilegais, o magnata Rupert Murdoch decidiu fechar o tabloide londrino, fundado em 1843, que vendia 2,7 milhões de exemplares aos domingos.
Com base em pesquisa que o próprio Meyer fez com milhares de leitores americanos, ele afirma que os tabloides são adorados pelo público.
Dono de uma carreira como repórter correspondente e editor de diversos jornais dos EUA e criador do conceito de "jornalismo de precisão", Meyer é professor emérito da Universidade da Carolina do Norte, em Chapel Hill.
Um dos precursores da RAC (Reportagem Auxiliada por Computador), ele defende a tese segundo a qual os jornais não vendem informação, mas influência. Leia os principais trechos de sua entrevista por e-mail à Folha.
Folha - Como o sr. analisa o escândalo das escutas telefônicas ilegais do "NoW"?
Philip Meyer - O mais importante nesse caso é a relação pouco saudável da empresa jornal com agentes da lei. Essas são questões que vão além da mera prevaricação jornalística. Chegou ao ponto em que os policiais terão de verificar o caso para determinar se houve crimes.
Folha - O "NoW" pertencia ao grupo de Rupert Murdoch. O jornal que descobriu o caso foi o "Guardian", mantido pela Scott Trust, uma organização sem fins lucrativos. O que pensa sobre isso?
Philip Meyer - O mais importante nesse caso é a relação pouco saudável da empresa jornal com agentes da lei. Essas são questões que vão além da mera prevaricação jornalística. Chegou ao ponto em que os policiais terão de verificar o caso para determinar se houve crimes.
Folha - O "NoW" pertencia ao grupo de Rupert Murdoch. O jornal que descobriu o caso foi o "Guardian", mantido pela Scott Trust, uma organização sem fins lucrativos. O que pensa sobre isso?
Meyer - Esse modelo pode ser a salvação do jornalismo. Nos EUA, entidades sem fins lucrativos estão se tornando uma grande força no jornalismo investigativo. A ProPublica, com sede em Nova York, e a American University's Investigative Reporting Workshop, do qual sou um membro, são alguns exemplos. Claro que mesmo esses grupos sem fins lucrativos têm de pagar suas contas. O "Guardian" tem uma forte tradição de serviço público, e Alan Rusbridger [editor do jornal] está fazendo um bom trabalho de mantê-la ativa.
Folha - Em "Os Jornais Podem Desaparecer?", o sr. abordou a queda de qualidade dos jornais americanos. Com o escândalo do "NoW", outros tabloides britânicos devem perder influência. O sr. vê alguma relação entre esse caso na Inglaterra e a queda de influência dos jornais americanos como um todo abordada no livro?
Folha - Em "Os Jornais Podem Desaparecer?", o sr. abordou a queda de qualidade dos jornais americanos. Com o escândalo do "NoW", outros tabloides britânicos devem perder influência. O sr. vê alguma relação entre esse caso na Inglaterra e a queda de influência dos jornais americanos como um todo abordada no livro?
Meyer - Minha análise tratou dos efeitos corrosivos das novas tecnologias [na imprensa escrita]. O "NoW" é um caso que envolve comportamento criminal. Eu não vejo uma ligação - a menos que você possa especular sobre como as pressões financeiras das novas tecnologias estão levando alguns jornais a medidas desesperadas. Mas essa especulação seria difícil de fazer, na minha opinião.
Folha - Qual é o futuro dos outros tabloides?
Meyer - O efeito da crise do NoW será limitado e breve. Mas o efeito mais corrosivo é o da tecnologia, que é crescente e interminável.
Folha - Para os tabloides, são mais positivos ou negativos esses "efeitos corrosivos das novas tecnologias"? Por quê?
Folha - Qual é o futuro dos outros tabloides?
Meyer - O efeito da crise do NoW será limitado e breve. Mas o efeito mais corrosivo é o da tecnologia, que é crescente e interminável.
Folha - Para os tabloides, são mais positivos ou negativos esses "efeitos corrosivos das novas tecnologias"? Por quê?
Meyer - Eles estão prejudicando todos os jornais impressos, mas os mais especializados são os menos afetados - e aqui nos EUA eu considero os tabloides como especializados. Eles são bons em chamar a atenção, mas seu apelo é limitado a um grupo demográfico. Devo dizer, no entanto, que não tenho dados para sustentar essa opinião, e isso não deve ser verdade em todos os lugares.
Folha - O sr. fez uma pesquisa com leitores de jornal para seu livro. Sua pesquisa pôde detectar o que esses leitores pensam dos tabloides? Eles aprovam esse tipo de jornalismo que utiliza escutas ilegais?
Meyer - Muitos leitores gostam muito desses jornais e por isso eles [os tabloides] são rentáveis. Só que os chamados "tabloides de supermercado" nos EUA dependem principalmente da venda nesses locais - não de assinaturas. Então, eles vão sobreviver enquanto esses hipermercados estejam dispostos a exibi-los. Folha - O sr. fez uma pesquisa com leitores de jornal para seu livro. Sua pesquisa pôde detectar o que esses leitores pensam dos tabloides? Eles aprovam esse tipo de jornalismo que utiliza escutas ilegais?
Fonte: Luís Eblak, "Escândalo do grampo terá efeito breve sobre tabloides", Folha de S. Paulo, Mundo, 7/8/11.
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