A presidente está surpreendendo. Sua fama era de competente e durona, mas de não saber fazer política, ser incapaz de negociar.
Pois a "saída" do ministro da Agricultura foi uma surpresa.
Ela conseguiu o que queria - se livrar de Wagner Rossi -, na moral, sem precisar bater de frente com o PMDB. Palmas para ela, e vexame para sua "base de apoio" - aliás, apoio a eles mesmos -, cujos deputados sumiram quando souberam do desfecho.
Em seu discurso de posse, a presidente estendeu a mão à oposição, coisa que há oito anos não acontecia; agora, dez senadores (só dez!) - todos de reputação inatacável - fizeram um gesto em direção a Dilma, oferecendo a ela apoio, para que a faxina continue.
Aceite, presidente; é uma boa hora para fazer novas amizades e se firmar como grande brasileira.
Nos encontros que tem tido com Lula, em diversas bases aéreas do país, imagino os conselhos que Dilma recebe. A governabilidade acima de tudo etc. etc., e 2014, claro.
A presidente parece obediente, mas sabe muitíssimo bem o que é certo e o que é errado, seu mestre foi Brizola; será que algum dia sonhou que teria que se reunir com Michel Temer e José Sarney, para "sentir" se podia ou não demitir um ministro apadrinhado por eles? Afinal, não foi para isso que Dilma abriu mão de sua juventude, que foi presa e torturada.
Seu dever de lealdade é, em primeiro lugar, para com os que a elegeram, e só depois a Lula, isso se achar que deve; afinal, a presidente é ela, eta herança mais maldita.
Ela não precisou dar um murro na mesa para se livrar dos dois ministros que já se foram; ainda faltam alguns, é verdade, mas ela é mineira, tem paciência para esperar a hora certa. Caindo o terceiro ministro desta leva, que está quase, Dilma podia aproveitar o embalo e diminuir o número de ministérios, começando pelo da Pesca, que não dá para entender.
Com os acontecimentos da semana, a próxima pesquisa deverá ser mais favorável, e em sua nova fase ela deveria apontar aquele seu dedo ameaçador diretamente aos políticos que só pensam nas emendas, as famosas emendas.
Depois do deslumbramento inicial, aliás compreensível, fantasio que às vezes Dilma pense "por que eu fui me meter nessa?"
Cercada pela sua falta de experiência política, e vigiada de perto por Gilberto Carvalho, que dá os recados de Lula, sua vida não deve ser fácil.
Aliás, o que teria feito Lula com essa crise nos ministérios? Faria um discurso bem popular, esbravejando, como sempre, e diria que a culpa era toda da imprensa. Aliás, é bom lembrar que, se não fosse a imprensa, Palocci ainda seria o ministro mais poderoso do governo.
Estou começando a confiar mais em Dilma, e adoraria poder elogiar coisas que ela faz mais vezes, muitas vezes. Mas vamos combinar: cada vez que ela fala, é um desastre; decididamente, nossa presidente não nasceu com o dom da palavra.
E nem precisa; basta fazer o que deve, o que é certo.
Fonte: Danuza Leão, “Acelera, Dilma”, Folha de S. Paulo, Cotidiano, 21/8/11, p. C-2.
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