Sempre considerei Brasília, como símbolo do poder (ou seja,
a alegoria vale para as demais esferas), uma “ilha da fantasia”. No caso da
capital federal, a sensação se acentua pela distância que o núcleo do poder está
do grosso da população.
Em Brasília, os poderosos em geral vivem um mundo à parte.
No Congresso Nacional a situação é mais evidente. O que faz, afinal, um
deputado e um senador?
Pelo que lemos e vemos diariamente, grande parte dos
parlamentares foca seu trabalho muito mais em questões “interna corporis”, como
se costuma dizer no mundo jurídico, do que propriamente nos interesses da
coletividade.
As recentes eleições de Renan Calheiros (PMDB-AL) para a
presidência do Senado e de Henrique Alves (PMDB-RN) para o comando da Câmara
Federal mostram como o jogo de poder está voltado muito mais aos interesses
internos das casas legislativas (cargos, emendas, negociatas) do que
propriamente ao interesse público.
O “sistema é foda”, como cita magnificamente o filme “Tropa de
Elite 2” na magistral cena final.
Recentemente, tive a oportunidade de conferir como em
Brasília tudo gira em torno do compadrio (ainda que não exista nesta relação necessariamente
nenhum dinheiro envolvido). Não são as questões técnicas que prevalecem e sim
os contatos, as amizades. Daí a importância dos políticos indicarem
apadrinhados para cargos nas mais diversas esferas da administração.
Para se obter um benefício, ainda que de modo lícito, é
preciso conhecer a secretária da secretária da secretária do ministro ou do
diretor de algum órgão.
Não deveria ser assim. Processos e procedimentos deveriam
caminhar independentemente de cor partidária, ideológica ou de qualquer laço de
amizade.
Como o compadrio é regra, porém, não é raro surgirem
escândalos. Quando se juntam os interesses mesquinhos dos políticos com o “sistema”,
chega-se facilmente à conclusão de que os poderosos indicam afilhados políticos
para atenderem aos seus interesses. Não – e raramente – aos interesses da
sociedade.
Dá para mudar este jogo? Se eu acreditasse que não, talvez
fosse melhor parar o mundo.
Sei, porém, que é quase uma utopia.
Quando se chega ao ponto do Tiririca afirmar que se desiludiu com a atividade de deputado, que não se pode fazer nada no Congresso, percebe-se que o caminho é
longo.
É preciso, porém, dar o primeiro passo. E este primeiro passo envolve necessariamente a eleição.
Somos nós, eleitores, que colocamos aquelas pessoas onde elas estão. Cabe a nós
a mudança. Ao Brasil inteiro.
Vai demorar, mas é preciso começar!
PS: finalmente a sociedade brasileira começa a manifestar sua
voz de modo mais frequente, já não aceita passivamente os desmandos. Nos
últimos dias, um movimento foi criado para cobrar a saída de Renan Calheiros do
comando do Senado.
Você pode colaborar aderindo ao abaixo-assinado aqui.
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