Sou um leitor assíduo de jornais – não, não sou da geração
“y”. Meu nível de conexão com as redes sociais é baixíssimo (não tenho
Facebook, Twitter, Orkut, nada dessas ferramentas que só nos desviam o foco,
arrumam problemas por causa da “bisbilhotice” alheia e servem para quem quer
ficar procurando “tilangos” e “tilangas” ou “amigos” virtuais).
Fiz esta introdução inútil para deixar claro que não sou um
usuário inveterado da Internet. Esta observação é importante para o que
pretendo comentar. Como leitor de jornais, tenho percebido certa inutilidade de
muitas páginas (e não são de classificados...). Vou tentar ser mais claro:
grande parte das notícias que recebo diariamente não me interessa (nem aos meus
pais, que compartilham os jornais comigo). Pouco se salva em cada edição.
Notícias como “Aumenta a procura por peixes na Quaresma” ou
“Finados deve atrair 20 mil aos cemitérios” não fazem mais sentido no mundo de
hoje. Tenho focado minha leitura em análises (editoriais, opiniões, etc) e
eventuais “furos” de reportagem (sejam denúncias relevantes ou histórias
exclusivas, bem escritas e bem contadas).
O que isto significa? Que a maior parte do noticiário está
disponível na Internet. Somos bombardeados a cada minuto por uma quantidade enorme
de informação. E os jornais continuam reproduzindo – no dia seguinte! - muito
do que já está nas redes, tornando-os quase desnecessários. Se continuarem
assim, vão acelerar as previsões apocalípticas sobre o meio.
Recentemente, estive nos Estados Unidos e percebi como os grandes
jornais (“The New York Times” e “Washington Post”, por exemplo) reduziram o
tamanho de suas edições, principalmente durante a semana. Lá, onde o acesso aos
aparelhos móveis e à banda larga é infinitamente maior que no Brasil, a crise
na mídia impressa é séria e já causou falências e centenas de demissões (talvez
milhares).
Trata-se, então, de um caminho sem volta?
Não, ao contrário. Encontrei nos jornais norte-americanos
boas histórias, daquelas que não aparecem facilmente em todos os sites (ou em
qualquer site). Ou as mesmas histórias, contadas de um jeito diferente, sob um
prisma novo. É uma reação às mudanças, uma tentativa de sobrevivência.
Além disso, permanecem as análises de conjuntura e as
crônicas. Este tipo de material não se encontra por aí, reproduzido aos montes
em qualquer site de notícias. Já as informações sobre a “procura por peixes na
Quaresma” ou o “público do Finados” podem ser lidas em qualquer lugar.
Caros colegas jornalistas: não entendam esta manifestação
como crítica ou ressentimento porque deixei a mídia impressa há três anos. Ao
contrário: abri este texto deixando claro que sou um leitor assíduo de jornais.
Formei-me profissionalmente dentro de uma redação de veículo impresso, algo de
que me orgulho. Nutro o maior respeito pelo meio.
Busco apenas fazer uma análise sincera do meio (e muito do
que escrevi sobre os jornais e revistas vale também para a TV, cujo noticiário
do dia-a-dia é praticamente igual em qualquer canal e sem novidades em relação
ao que já se viu na Internet).
Onde estão as grandes reportagens, as boas histórias, os
bons textos, as belas imagens? Isto atraiu, atrai e atrairá sempre leitores e
telespectadores.
(Em tempo: isto exige investimentos em profissionais de
qualidade e em infraestrutura.)
Tenho um projeto de jornal um tanto ousado. Ele focaria
justamente nestes pilares que aqui mencionei – “fait divers” em pequenas
colunas, as notícias do dia-a-dia em pequenas colunas, restando espaço para prestação
de serviços (excluindo loterias, previsão do tempo e afins, disponível em
qualquer site de notícias), boas reportagens sobre figuras e acontecimentos que
fogem da pauta tradicional e eventuais denúncias, com investimento forte em
apuração e pesquisa.
Confesso que não sei se há espaço para isso ainda. Tenho
notado um certo receio dos donos de jornais em mudar o atual formato, que vai
sobrevivendo às custas do baixo nível de educação do brasileiro e da banda
larga de péssima qualidade que temos no país. Quando tudo isto mudar, acredito
que as cenas vistas nos EUA, onde as pessoas lêem as notícias preferencialmente
pelo celular ou tablet, vão se repetir por aqui. Aí, os jornais terão mesmo que
se reinventar ou caminharão paulatinamente para o abismo anunciado.
PS: a foto - bastante significa - que ilustra esta postagem
foi tirada no metrô de Nova York.
* Mais sobre este assunto neste blog: