Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João
É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi
Da dura poesia concreta de tuas esquinas
Da deselegância discreta de tuas meninas
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João
É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi
Da dura poesia concreta de tuas esquinas
Da deselegância discreta de tuas meninas
(...)
Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto
Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto
É que Narciso acha feio o que não é espelho
E à mente apavora o que ainda não é mesmo velho
Nada do que não era antes quando não somos Mutantes
Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto
É que Narciso acha feio o que não é espelho
E à mente apavora o que ainda não é mesmo velho
Nada do que não era antes quando não somos Mutantes
E foste um difícil começo
Afasta o que não conheço
E quem vem de outro sonho feliz de cidade
Aprende depressa a chamar-te de realidade
Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso
Afasta o que não conheço
E quem vem de outro sonho feliz de cidade
Aprende depressa a chamar-te de realidade
Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso
(“Sampa”, de Caetano Veloso)
Andar por São Paulo me inspira. Passear por São Paulo me
encanta. A cidade que nunca dorme (sim, a alcunha é de Nova York, mas cabe bem à
capital paulista, afinal um lugar onde uma loja de materiais de construção
funciona 24 horas merece tal distinção) tem passado por transformações
fabricadas pelo dinheiro numa velocidade tal que a colocam como um dos mais
belos exemplos das experimentações arquitetônicas que se vê pelo mundo.
São Paulo – locomotiva do estado que é considerado a
locomotiva do Brasil – adquiriu uma modernidade (que, de resto, sempre possuiu
desde que o café “virou ouro”) de tamanha grandeza que se vê em poucos lugares.
Hoje, sem sombra de dúvida, pode-se dizer que a capital
paulista nada deve a Nova York em termos de arquitetura, beleza e riqueza, ao menos
em sua área nobre (princípio que vale também para a cidade norte-americana).
Não se vai à periferia de São Paulo excursionar como também não se vai à
periferia de NY (no máximo ao Brooklyn, longe de ser periferia).
Agências bancárias “vips”, com arquitetura de fazer inveja a
suas congêneres em outras cidades; prédios espelhados (nesta arquitetura
contemporânea que às vezes parece cópia dela mesma) espalhados pelas principais
ruas e avenidas e que refletem uma cidade para muitos feia, mas que tem vocação
para Narciso (sim, São Paulo se acha bela e gosta de se ver). Uma cidade que,
por vezes, faz suspirar.
O que vejo hoje em São Paulo não vi em Nova York, uma certa
ostentação moderna em confronto com o estilo clássico predominante nos prédios
da “Big Apple”. Uma mostra de que o dinheiro está circulando por ali, de que
São Paulo se tornou definitivamente passagem obrigatória no cenário dos
negócios mundiais. Uma cidade que, sob certos aspectos, lembra Chicago (talvez o
símbolo da riqueza norte-americana), com sua arquitetura moderna misturada a
clássicos.
São Paulo, porém, é muito, muito maior. Infinitamente maior que Chicago.
Daí a comparação cabível e possível apenas com Nova York, cujo charme talvez
supere o paulistano. Não que a capital paulista não o tenha – e certamente o
tem. Como também tem uma arquitetura desafiadora e arrojada nos traços
concretos de um certo Oscar Niemeyer e sua “Oca” e seu teatro com língua de
fora no Ibirapuera e suas curvas no Copan e em tantos outros lugares.
Sim, São Paulo cresce ao ritmo do crescimento do Brasil nos
últimos anos. É o exemplo maior e mais bem acabado de um país que assume – ou quer
assumir – uma dose de protagonismo na cena mundial.
Não que a capital paulista tenha resolvido os seus problemas,
ao contrário: eles crescem talvez na proporção do crescimento econômico, são
gigantescos, desafiadores e assustadores, mas é deste emaranhado de desafios
que surgem algumas das mais bonitas e criativas soluções.
Com seu luxo e seu lixo, São Paulo é pura vibração, emana
uma energia contagiante. Uma sensação só sentida talvez por quem não enfrente
diariamente os seus obstáculos, por quem chegue a ter certo prazer (seria um masoquismo
não sexual?) no trânsito caótico, por quem enfim seja mero passageiro de suas
vias e suas veias.
De São Paulo, pode-se dizer tudo; só não se pode ignorá-la –
ainda mais agora que ela cresce e aparece (sim, parece forçoso dizer isto de
uma cidade que há décadas está entre as maiores do mundo, mas a ideia é
justamente esta: mostrar que aquela cidade grande está maior ainda, mais
caótica, mais rica e, por que não?, mais bela).
PS: a escolha de "Sampa" para abrir esta postagem talvez soe piegas, mas é exatamente como me sinto quando estou por lá.
0 comentários:
Postar um comentário