sexta-feira, 19 de julho de 2013 | |

Uma ode a São Paulo

Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João
É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi
Da dura poesia concreta de tuas esquinas
Da deselegância discreta de tuas meninas

(...)

Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto
Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto
É que Narciso acha feio o que não é espelho
E à mente apavora o que ainda não é mesmo velho
Nada do que não era antes quando não somos Mutantes

E foste um difícil começo
Afasta o que não conheço
E quem vem de outro sonho feliz de cidade
Aprende depressa a chamar-te de realidade
Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso

(“Sampa”, de Caetano Veloso)


Andar por São Paulo me inspira. Passear por São Paulo me encanta. A cidade que nunca dorme (sim, a alcunha é de Nova York, mas cabe bem à capital paulista, afinal um lugar onde uma loja de materiais de construção funciona 24 horas merece tal distinção) tem passado por transformações fabricadas pelo dinheiro numa velocidade tal que a colocam como um dos mais belos exemplos das experimentações arquitetônicas que se vê pelo mundo.

São Paulo – locomotiva do estado que é considerado a locomotiva do Brasil – adquiriu uma modernidade (que, de resto, sempre possuiu desde que o café “virou ouro”) de tamanha grandeza que se vê em poucos lugares.

Hoje, sem sombra de dúvida, pode-se dizer que a capital paulista nada deve a Nova York em termos de arquitetura, beleza e riqueza, ao menos em sua área nobre (princípio que vale também para a cidade norte-americana). Não se vai à periferia de São Paulo excursionar como também não se vai à periferia de NY (no máximo ao Brooklyn, longe de ser periferia).

Agências bancárias “vips”, com arquitetura de fazer inveja a suas congêneres em outras cidades; prédios espelhados (nesta arquitetura contemporânea que às vezes parece cópia dela mesma) espalhados pelas principais ruas e avenidas e que refletem uma cidade para muitos feia, mas que tem vocação para Narciso (sim, São Paulo se acha bela e gosta de se ver). Uma cidade que, por vezes, faz suspirar.


 
 







O que vejo hoje em São Paulo não vi em Nova York, uma certa ostentação moderna em confronto com o estilo clássico predominante nos prédios da “Big Apple”. Uma mostra de que o dinheiro está circulando por ali, de que São Paulo se tornou definitivamente passagem obrigatória no cenário dos negócios mundiais. Uma cidade que, sob certos aspectos, lembra Chicago (talvez o símbolo da riqueza norte-americana), com sua arquitetura moderna misturada a clássicos.

São Paulo, porém, é muito, muito maior. Infinitamente maior que Chicago. Daí a comparação cabível e possível apenas com Nova York, cujo charme talvez supere o paulistano. Não que a capital paulista não o tenha – e certamente o tem. Como também tem uma arquitetura desafiadora e arrojada nos traços concretos de um certo Oscar Niemeyer e sua “Oca” e seu teatro com língua de fora no Ibirapuera e suas curvas no Copan e em tantos outros lugares.



 




Sim, São Paulo cresce ao ritmo do crescimento do Brasil nos últimos anos. É o exemplo maior e mais bem acabado de um país que assume – ou quer assumir – uma dose de protagonismo na cena mundial.

Não que a capital paulista tenha resolvido os seus problemas, ao contrário: eles crescem talvez na proporção do crescimento econômico, são gigantescos, desafiadores e assustadores, mas é deste emaranhado de desafios que surgem algumas das mais bonitas e criativas soluções.

Com seu luxo e seu lixo, São Paulo é pura vibração, emana uma energia contagiante. Uma sensação só sentida talvez por quem não enfrente diariamente os seus obstáculos, por quem chegue a ter certo prazer (seria um masoquismo não sexual?) no trânsito caótico, por quem enfim seja mero passageiro de suas vias e suas veias.

De São Paulo, pode-se dizer tudo; só não se pode ignorá-la – ainda mais agora que ela cresce e aparece (sim, parece forçoso dizer isto de uma cidade que há décadas está entre as maiores do mundo, mas a ideia é justamente esta: mostrar que aquela cidade grande está maior ainda, mais caótica, mais rica e, por que não?, mais bela).


PS: a escolha de "Sampa" para abrir esta postagem talvez soe piegas, mas é exatamente como me sinto quando estou por lá.

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