Estou a ler um livro saboroso (quem ousa dizer que os livros não possuem sabor?). "Paris - Quartier Saint-German-des-Prés", do ministro Eros Grau. Recém-lançado, fresco ainda. Poucas vezes viajei tanto ao ler uma obra quanto agora. Viajei mesmo, quase literalmente. Posso dizer que estive algumas boas tardes no Le Flore compartilhando um café com o autor.
Mas não é exatamente dele nem do livro que quero falar. Ou melhor, é do livro, óbvio, mas não exatamente das sensações que ele me despertou nem dos segredos germanopratins que revela.
Aprendi, ao ler "Paris...", de Eros Grau, que o neoliberalismo privatizante tão criticado pela esquerda nos anos FHC no Brasil é coisa antiga. Inclusive em um dos seus símbolos maiores em São Paulo, os pedágios das rodovias concedidas à iniciativa privada a partir do governo tucano de Mário Covas.
Conta o ministro em seu livro que a ideia de conceder obras viárias para a iniciativa privada surgiu na Franca em 1560, por iniciativa do rei Charles IX. Ele deu a concessionários o direito de cobrar pedágio em troca da responsabilidade pela conservação de pontes, caminhos e passagens. Se o serviço não fosse feito, a arrecadação do pedágio seria tomada pelo reino para o mesmo fim (pág. 76).
Mais: em 1604, por determinação do ministro Sully, foi aplicado pela primeira vez um instrumento hoje recorrente na esfera pública, a desapropriação mediante "prévia e justa" indenização do proprietário para realização de obras (pág. 77).
Sem contar que partiu de Sully também o que se pode considerar o embrião da Comunidade Europeia atual. Isto há 400 anos! No início do século 17, ele pensou um sistema político que integraria a Europa em torno de seis monarquias hereditárias, três repúblicas federativas mais a Itália. Haveria ainda conselhos regionais, uma assembleia supranacional e um conselho geral (pág. 80-1).
Bem que se vê que neoliberais mesmo eram os franceses, estes revolucionários...
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