Vão começar de direito (porque de fato já começaram há meses) nesta terça-feira - com a prévia republicana em Iowa - as eleições norte-americanas.
O sistema de votação nos Estados Unidos é complexo, curioso e um tanto esquizofrênico, eu diria. Basta ver que o candidato republicano será definido após uma série de 50 prévias (sem contar os muitos debates já feitos em 2011) pelos estados, nas quais os pretendentes vão se atacar até que – tal como naquele antigo jogo – reste um.
Confesso que não consigo entender como alguém pode sair fortalecido para uma dura disputa depois de sofrer tantos ataques internos, de gente do próprio partido. E nós, brasileiros, ainda estranhamos o jogo rasteiro em siglas como PT e PSDB para definir seus candidatos (vide a disputa José Serra e Aécio Neves nos bastidores tucanos). Nos EUA, tirando o presidente-candidato natural à reeleição, os adversários digladiam-se em público.
Como defender posteriormente uma candidatura que nasce já tão fragilizada? Mas é assim que funciona por lá, há décadas.
E quando se fala em expor as feridas dos adversários, não se trata de buscar desvios públicos apenas. Vale tudo nessa disputa, desde casos extraconjugais até acusações de estupro, como houve no ano passado com Herman Cain.
O fato é que a disputa promete ser dura. Barack Obama venceu a eleição quatro anos atrás catapultado pelo famoso slogan da esperança – o “Yes, we can” (“Sim, nós podemos”). Agora, sofre o natural desgaste do mandato e da crise que atinge a economia norte-americana há anos, sem sinais de recuperação efetiva (leia aqui o que este blog escreveu sobre a crise em 2009).
Mais: Obama vira e mexe é acusado de ser comunista num país que prima pela liberdade individual, de expressão e de mercado. É acusado, imagine, de pensar “demais” no social (este assunto já foi tratado aqui no blog).
Por mais que o detentor do poder tenha um certo favoritismo na disputa eleitoral (é mais comum os presidentes serem reeleitos do que o contrário, conta a história), o caminho para Obama não será fácil. Se tem a máquina estatal a seu favor, conta com uma direita cada vez mais raivosa.
Neste cenário, a definição do candidato republicano é peça-chave. Nenhum dos atuais postulantes parece ter força e carisma suficientes para bater Obama, ainda que fragilizado. No entanto, não se pode subestimar o poder do conservadorismo norte-americano. Tampouco prever a mente daquele país.
Lembro bem de uma conversa mantida em 2007 em Greenwich, Nova York, com um brasileiro que morava há mais de 20 anos nos EUA. Naquele momento, o cenário era o oposto de hoje. Fervia a disputa entre os democratas para definir o adversário do candidato republicano apoiado pelo então presidente George W. Bush na eleição de 2008.
Entre os democratas (que já apareciam como favoritos em razão da fragilidade de Bush), a então senadora e ex-primeira-dama do país Hillary Clinton e o então senador Obama lideravam a disputa. Perguntei ao brasileiro quem venceria. Ele não hesitou: “Hillary”. A justificativa pareceu-me plausível: “os americanos não são tão ‘open-mind’ (mente-aberta) para apoiarem um candidato negro e muçulmano”.
Fiquei com a certeza de que Hillary seria a escolhida. Bem, o resto da história todos sabem. Obama é o presidente.
Nada como uma grande crise para derrubar pré-conceitos.
O que esta mesma grande crise produzirá desta vez? A resposta só no final do ano.
PS: a eleição norte-americana é tão complexa com seus caucus (a escolha de delegados para as primárias) e colégios eleitorais que, nem sempre, quem tem mais voto leva. Que o diga o democrata Al Gore... Por isso, é essencial acompanhar todos os passos da disputa, dos debates à apuração, incluindo todos os rituais, como o último discurso, o discurso da vitória, a fala de reconhecimento da derrota. Como de costume, tudo isso acaba virando um show na mídia. E o show começou!
Em tempo: quem não se recorda do histórico discurso de posse de Obama pode ver detalhes aqui.
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