Nas grandes concentrações de usuários e traficantes de drogas em Baltimore (EUA), quadras esportivas foram estrategicamente instaladas e funcionam até à noite - nelas, os serviços sociais se aproximam de quem busca ajuda para sair dessa.
Em Bogotá, na Colômbia, usuários de crack e de heroína que se inscrevem em programas de desintoxicação têm direito a receber doses de seu vício com agentes de saúde. Ninguém abandona a dependência química da noite para o dia.
Em ambas as cidades, a ideia foi atrair os usuários e logo tratá-los. Aqui, as operações preferem dispersá-los. Longe da cracolândia, eles magicamente desapareceriam.
Na declaração "a USP não é a cracolândia", Fernando Haddad se equiparou à linha-dura tucana. Em 20 anos, malufistas, petistas e demotucanos permitiram que a degradação crescesse. Falta empenho para esse intrincado drama de saúde.
Investimento pesado e pressa mesmo, só para construir túneis, ampliar marginais e recapear ruas em ano eleitoral. E 2012 apenas começa.
A metros da cracolândia, o trágico incêndio na favela do Moinho e a implosão tabajara não foram capazes de derrubar o imponente prédio do antigo Moinho Matarazzo. Não soubemos o que fazer com ele, e uma multidão sem-teto se apropriou de um espaço nada seguro como abrigo.
Na Alemanha, a velha siderúrgica da Thyssen, em Duisburg, virou um parque inusitado, e suas paredes, muros de escalada. Altos fornos ganharam escorregadores. Árvores e areia ocupam o chão da usina.
Em Buenos Aires, armazéns e fábricas viraram hotéis, galerias de arte, escritórios e restaurantes. Desde 2010, um antigo mercado de peixes hospeda empresas de jovens. Relíquias industriais geram empregos.
Não sabemos dar teto a quem precisa nem aproveitar nosso escasso patrimônio. Apenas pensamos em remendos quando o entorno já apodreceu.
Fonte: Raul Juste Lores, “E já é ruína”, Folha de S. Paulo, Opinião, 6/1/12, p. 2
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