A cidade de Lucerna, na Suíça, sedia até o próximo dia 14 um
dos maiores festivais de música clássica do mundo. Este ano, a programação
inclui uma atividade diferente: a comunidade foi convidada a colaborar na
composição de uma sinfonia para a cidade.
O ronco de um motor no trânsito, o barulho do ônibus e da
fonte. Vida urbana combinada com a natureza. As aves no lago, o ruído dos
pássaros na ponte medieval, a água batendo suavemente no barco a vapor... Transformar
os sons de uma cidade numa sinfonia é o desafio do compositor americano Tod Machover.
Ele desembarcou em Lucerna com o compromisso de dar a uma das mais encantadoras
cidades suíças a sua própria música. “Toda cidade tem seus próprios sons",
disse.
Na moderna sala de concertos de Lucerna, as apresentações do
festival atraem pessoas de todo o mundo.
Do lado de fora, é o trabalho de Tod
que chama a atenção. Ele saiu às ruas para captar opiniões e ruídos. Andou às
margens do lago, ouviu sotaques e idiomas diferentes. “Num lugar quieto como
lucerna”, falou, “é preciso atenção e paciência para ouvir os sons”. Por
exemplo: dos trens e barcos.
O compositor pediu também para as pessoas enviarem sons da
cidade, qualquer som.
Depois, tudo vai ser trabalhado em estúdio com ajuda da
tecnologia. O compositor é ligado ao Laboratório de Mídia do Instituto de Tecnologia
de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, um dos mais renomados do mundo. É
lá que sons, como da água, devem virar notas musicais. O trabalho vai durar um
ano.
Parece difícil, mas o resultado Toronto conhece bem. A maior
cidade do Canadá foi a primeira a ganhar uma sinfonia para chamar de sua.
Quando eu pergunto se seria possível fazer uma composição
com o trânsito caótico de São Paulo, o compositor interrompe: “mas em São Paulo
o trânsito não anda!". Depois, confessa que adoraria fazer o projeto. “São
Paulo é uma das grandes cidades do mundo”, afirmou.
Ele lembrou até de quando esteve num barzinho e viu um
músico tocando com duas colheres: “eu nunca ouvi nada igual”.
Pelo jeito, só falta o convite.
* Texto original de reportagem feita para o "Jornal da Cultura" (seg. a sáb., 21h)
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