(...) Será possível ser objetivo numa cobertura jornalística?
(...) É Immanuel Kant (1724-1804) quem traça as linhas do
debate moderno. Para o filósofo de Königsberg, podemos conceber uma realidade
objetiva, isto é, que exista independentemente das ideias que tenhamos sobre as
coisas que a compõem.
O problema é que essas "coisas em si" são uma
mercadoria de pouco valor, já que nós, humanos, não temos acesso direto a elas,
estando condenados a abordar o mundo através de nossa sensibilidade e por meio
de nosso entendimento. Para Kant, o que de melhor temos à nossa disposição é o
fenômeno, que seria uma espécie de interação entre a realidade objetiva e nossa
forma humana, subjetiva, de percebê-la.
Assim, num plano mais metafísico, a resposta à nossa
pergunta é negativa. A objetividade não seria muito mais do que uma miragem.
(...) Gosto de brincar dizendo que o jornalismo é a
realização diária de uma impossibilidade teórica.
(...) Ainda que não seja fácil
sustentá-lo filosoficamente, penso que há uma diferença importante entre a
ficção pura e simples e a exposição de eventos em princípio verificáveis. É
nesse espaço estreito e epistemologicamente precário que o jornalismo busca
equilibrar-se. Consegue? (...)
Fonte: Hélio Schwartsman, “Folha
de S. Paulo”, Poder, 25/9/14 (íntegra aqui).
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