Há um par de anos, a "Economist" alçou à capa a
suposição, tirada de um especialista em comunicação, de que o último jornal
impresso circularia pela última vez no ano de 2043.
(...) Eis que, há duas semanas, John Cassidy, jornalista da
"New Yorker", tascou o primeiro texto razoavelmente otimista sobre a
indústria nos últimos 20 anos.
Antes das boas notícias, o diagnóstico mais ou menos
consensual: com a chegada da internet, o antigo modelo de negócios baseado em
receitas de publicidade foi seriamente danificado, "e o esforço para replicar
o modelo de anúncios na rede fracassou em geral".
Ninguém, no mundo inteiro, descobriu até agora como ganhar
dinheiro com jornalismo na internet.
Ganhar dinheiro, no caso, não significa só os trocados que
permitem a mera sobrevivência. Jornalismo (de qualidade, é claro) é um esporte
extremamente caro e, portanto, exige receitas de fato suculentas.
A boa notícia é que começam a pipocar, aqui e ali, números
que demonstram que talvez dê, sim, para ganhar dinheiro com notícias no papel e
em sua versão digital.
O exemplo mais recente citado por Cassidy é o do
veteraníssimo "Times" (o de Londres, não o de Nova York), que acaba
de anunciar o primeiro lucro operacional após 13 anos de prejuízos.
Como foi dos primeiros a cobrar pelo seu conteúdo, o lucro
do "Times" é um desmentido à sabedoria convencional que diz que
ninguém pagaria por notícias se estivessem disponíveis de graça na internet.
(...) A mudança no modelo de negócios, se e quando
efetivamente se consolidar, beneficia o leitor, como escreve Cassidy:
"Jornalistas financiados por anúncios são dependentes
de anunciantes, da métrica de page-views' e dos algoritmos das mídias sociais.
Jornalistas financiados por assinaturas são dependentes dos leitores".
(...) O otimismo do texto não leva o autor à ingenuidade de
supor que a crise do modelo de negócios está superada, mas lhe permite afirmar
que "o argumento de que jornais são dinossauros, destinados a serem
substituídos por competidores on-line mais ágeis, parece um bocado menos
convincente do que há poucos anos". (...)
Fonte: Clóvis Rossi, "Há vida no planeta jornal", Folha de S. Paulo, Mundo, 28/12/14.
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