(...) Para a esquerda, condições socioeconômicas como pobreza,
desemprego, desigualdade e educação são os principais fatores a explicar a
criminalidade. Já para a direita, delinquência se resolve é com polícia.
(...) Para desgosto da esquerda, é fraco o elo entre
economia e violência, como mostra Steven Pinker em "Melhores Anjos".
Dados de EUA, Canadá e Europa Ocidental revelam que melhoras econômicas quase
não têm efeito sobre as taxas de homicídios. Há, isto sim, uma correlação bem
modesta entre os índices de desemprego e os crimes contra o patrimônio.
A desigualdade se sai um pouco melhor. Ela até que prediz os
índices de violência quando se comparam países, mas fracassa em apontar
tendências dentro da mesma nação. É pouco provável, portanto, que haja aqui uma
relação causal. Mais razoável imaginar que falhas institucionais que produzem
excesso de desigualdade gerem também violência.
A solução da direita também traz problemas. É claro que, em
algum nível, melhorar o policiamento reduz crimes. Mas isso só funciona até
certo ponto. Se você o excede, desperdiça dinheiro público e estraga
inutilmente a vida de um monte de gente.
Os EUA, por exemplo, adotaram a tolerância zero nos anos 90
e reduziram o crime. Mas os índices de homicídio do Canadá, que já eram bem
menores que os dos EUA, seguiram as mesmas curvas sem que o país tenha
sucumbido à histeria.
Fonte: Hélio Schwartsman, “Especulação precoce”, Folha de S. Paulo, Opinião, 16/2/14, p. 2.
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