Por vezes, ao pensar nos problemas políticos ou esportivos
do Brasil - ou mais precisamente na solução destes problemas (que, na minha
visão, passa necessariamente pela troca das figuras que hoje protagonizam estes
setores) - chego à conclusão de que não haverá mudança se não houver ruptura.
Por ruptura, entenda-se um processo radical, que pode
incluir certo grau de violência (refiro-me a invasões, não a agressões). Talvez
o exemplo mais próximo do que imagino seja a Revolução Francesa (embora nela
cabeças tenham literalmente rolado).
Afinal, não se imagina mudar a CBF (Confederação Brasileira
de Futebol) ou o Congresso Nacional sem que o povo tome o poder (algo próximo
do que assistimos nas Jornadas de Junho, em 2013). Na ocasião, defendi que não
se fazia mudanças com protestos organizados (hora e local marcado, sem ameaças
ou prejuízos). Argumentava que o poder político só se sentiria pressionado pelo
poder econômico e este, por sua vez, só pressionaria se tivesse prejuízos.
Em resumo, defendia o radicalismo no lugar do diálogo para situações
que considero aparentemente sem solução.
Pois dia desses, conversando com o sempre provocativo
filósofo Luiz Felipe Pondé, comecei a mudar de opinião. Pondé comparou a
evolução histórica de França e Inglaterra para indicar que a reforma, e não a ruptura,
pode levar a mudanças efetivas e estáveis. Demora mais (muito mais), mas cria
bases sólidas - e, portanto, duradouras.
Em dado momento da história, os dois países enfrentaram
desafios semelhantes - questionamentos aos abusos do absolutismo. Ambos tinham
longa tradição monárquica. A França, como já registrado, optou pela revolução.
Guilhotinou rei e rainha, entre outros, e derrubou o regime. Como consequência,
o país viveu décadas de instabilidade política, com um vai-vem sem fim, ora
restaurando-se a monarquia, ora a república.
Sem contar que a ruptura criou um vácuo de poder instantâneo,
disputado forte e violentamente por grupos distintos, antes unidos contra um
mesmo inimigo - a monarquia. Uma instabilidade que, de certo modo, avançou até
o século 20 (não é preciso lembrar as várias convulsões sociais em solo
francês).
Já a Inglaterra buscou outra solução. Reduziu poderes reais,
mas manteve o regime. Num primeiro momento, o diálogo entre forças da sociedade
pode ter transmitido a impressão de falsa mudança. Afinal, o símbolo maior dos
abusos - a realeza - permanecia tal e qual (aparentemente). Mas as mudanças de
modo lento e progressivo deram ao país uma certa estabilidade que o fez
atravessar as décadas seguintes de modo mais seguro - e assim seguiu no século
20.
Segurança institucional que, neste caso, é pré-condição para
o desenvolvimento.
Aliás, o processo econômico está intimamente ligado ao
político, como bem explicado pelo renomado economista francês Thomas Piketty em
“O capital no século XXI”: “No Reino Unido, as coisas foram diferentes – mais lentas
e sem tanto fervor” (p. 134).
Para ser justo, em nenhum momento Pondé taxou um modelo como adequado ou melhor que outro. Apenas registrou, nas experiências bastante conhecidas de Inglaterra e França, que às vezes a reforma pode se mostrar, na distância do tempo, mais eficaz do que a ruptura.
No Brasil, portanto, terá que ser mesmo no voto - o que dependerá da qualidade da educação das futuras gerações.
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