Em tempos de mídias sociais, o jornalismo abre cada vez mais
espaço para o entretenimento. Arrisca-se ao ultrapassar uma fronteira tênue – e
perigosa. Há casos em que o show tem prevalecido em detrimento da informação.
A Igreja Universal do Reino de Deus, não é de hoje, usa a
concessão da TV Record conseguida em nome de seu líder, o bispo Edir Macedo,
para fazer proselitismo religioso e atender interesses políticos. Caso recente
ocorreu no programa “Domingo Espetacular”, que “exibiu
uma longa reportagem (26 minutos) sobre viciados em crack com o objetivo, na
verdade, de divulgar o trabalho de um bispo da igreja junto a pessoas com este
problema”, conta Mauricio Stycer em coluna na “Folha de S. Paulo”.
Na mesma coluna, Stycer cita as
manifestações do âncora e editor-chefe do “Jornal Nacional”, da TV Globo,
William Bonner, em redes sociais. “Talvez chame um pouco mais atenção
pelo fato de se tratar de um jornalista, de quem se espera uma postura mais
recatada, e não de um artista”.
Segundo o crítico de TV, a “questão é que esta fronteira
está cada vez mais borrada”. “No caso de alguns jornalistas da Globo, parece
haver um incentivo da própria emissora no sentido de que os profissionais
adotem uma postura mais ‘humana’, mais ‘gente como a gente’”, observa.
Não sei se é uma política da emissora, mas é fato que muitos
jornalísticos – da Globo e de outros canais - têm ganhado uma postura cada vez
mais popularesca. Na linguagem inclusive. Em reportagens, é comum ouvir “a
gasolina ‘tá’ cara” no lugar de “está”. Trata-se de uma concessão à linguagem
falada, em confronto com a gramática formal. Mais que concessão, uma escolha.
Também é comum ver apresentadores de telejornais, antes
restritos ao formalismo (talvez excessivo, é verdade) das bancadas, aderir a um
jeito despojado de chamar as notícias. Adotam até um tom estridente, como se
estivessem fazendo animação de auditório. “O jornal fica por aqui, a gente
volta amanhã, um beijo pra vocês e juízo hein!” – ouvi dia desses.
Repito: num mundo cada vez mais sem fronteiras em razão das
mídias sociais, talvez seja mesmo a hora de rever o formalismo dos telejornais
(e do jornalismo em geral). Contudo, há que se questionar se a popularização é
o melhor caminho.
Um texto, mesmo na TV, continua sendo um texto e tem regras,
disse um colega jornalista dia desses.
Veja: não estou dizendo que o novo caminho é certo ou
errado, melhor ou pior, apenas que é diferente. Concessões são sempre um risco,
abrem espaço para o limiar do entretenimento, do show, da celebrização, que não
deveriam se misturar com a tarefa de informar.
Mas e se funciona?
Aí a questão é: para quem? Por qual objetivo? Audiência
meramente?
São apenas perguntas (provavelmente ainda sem respostas) para questões que atormentam.
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