quinta-feira, 25 de setembro de 2014 | |

"A objetividade possível"

(...) Será possível ser objetivo numa cobertura jornalística?

(...) É Immanuel Kant (1724-1804) quem traça as linhas do debate moderno. Para o filósofo de Königsberg, podemos conceber uma realidade objetiva, isto é, que exista independentemente das ideias que tenhamos sobre as coisas que a compõem.

O problema é que essas "coisas em si" são uma mercadoria de pouco valor, já que nós, humanos, não temos acesso direto a elas, estando condenados a abordar o mundo através de nossa sensibilidade e por meio de nosso entendimento. Para Kant, o que de melhor temos à nossa disposição é o fenômeno, que seria uma espécie de interação entre a realidade objetiva e nossa forma humana, subjetiva, de percebê-la.

Assim, num plano mais metafísico, a resposta à nossa pergunta é negativa. A objetividade não seria muito mais do que uma miragem.

(...) Gosto de brincar dizendo que o jornalismo é a realização diária de uma impossibilidade teórica.

(...) Ainda que não seja fácil sustentá-lo filosoficamente, penso que há uma diferença importante entre a ficção pura e simples e a exposição de eventos em princípio verificáveis. É nesse espaço estreito e epistemologicamente precário que o jornalismo busca equilibrar-se. Consegue? (...)

Fonte: Hélio Schwartsman, “Folha de S. Paulo”, Poder, 25/9/14 (íntegra aqui).

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