quinta-feira, 17 de julho de 2014 | |

A tradição da arte cusquenha

O artesanato é um dos tesouros do Peru. Em Cusco, coração do império inca, a arte carrega marcas da história. Uma tradição de família, que passa de geração a geração.

Na casa da família Mendivil, o artesanato está em toda parte. Foi lá que viveu um dos mais conhecidos artistas cusquenhos, Hilário Mendivil.



A filha dele, Juana, recebe os visitantes com simplicidade e simpatia. Ela conta que o pai era autodidata e desenvolveu sua arte contra a vontade da família. “Minha avó amarrava as mãos dele no pé da mesa porque não queria que ele fosse artesão”, fala.

O trabalho de Mendivil mistura a cristandade dos colonizadores espanhóis com a tradição inca, uma marca de Cusco. As imagens com pescoço comprido são referência às lhamas, típicas da região da cordilheira dos Andes. A Virgem da Doce Espera, com Nossa Senhora grávida, é obra-prima da família.











As peças são feitas a partir de uma base de madeira, que recebe uma massa produzida com arroz. É preciso habilidade para moldar mãos, braços..., como mostra o marido de Juana. O rosto de massa ganha cores, que o transforma em arte. Molde e pintura são feitos à mão. Por isso, cada peça é única.


Hilário Mendivil morreu em 10 de novembro de 1977. Na casa onde viveu, há um pequeno museu. Mas o local mais importante fica fechado quase todo o tempo. O ateliê original onde trabalhava “Chollo” Hilário está exatamente como ele o deixou há 37 anos, desde que morreu. O local é tão importante para a família que ele fica normalmente fechado e as pessoas raramente pode entrar. Mas nós tivemos o privilégio de ser convidados pela Juana para conhecer o lugar, que já recebeu pessoas importantes como o poeta chileno Pablo Neruda e a rainha espanhola Sofia.

Uma herança que Juana faz questão de cultivar. “Se temos que morrer fazendo arte, que façamos”, diz a filha.




Na galeria de Antonio Olave Palomino, o único dos artistas cusquenhos da metade do século 20 ainda vivo, peças de cerâmica e madeira estampam desenhos e mosaicos. Uma riqueza de detalhes feitos à mão, com habilidade e perícia.

O artista é reconhecido também pela criação do Menino Jesus Manuelito. No trabalho de Palomino, imagens sacras se unem à arte pré-colombiana.





Em outra galeria, o destaque é o famoso Cristo de Mérida, sobrenome famoso na arte local. Uma imagem que reproduz todo o vigor do trabalho do patriarca Edilberto. Sua arte é inspirada no expressionismo indigenista, mas com foco nos trabalhadores do campo da região de Cusco. 

As mãos grandes são uma marca da família Mérida. Mãos calejadas pelo trabalho rural. Os rostos são sofridos. Segundo o filho de Edilberto, as peças carregam uma mensagem social, de denúncia das injustiças contra o homem do campo.

A arte da família Mérida, iniciada por Edilberto e herdada pelos filhos, está detalhada em um livro, ainda inédito em português. 







A arte tradicional das famílias cusquenhas pode ser conhecida de graça. Todas as galerias ficam no charmoso bairro de San Blas, em Cusco.


* Texto original de reportagem do programa "Mais Cultura" (TV Cultura, seg. a sex., 13h):

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