sexta-feira, 11 de julho de 2014 | |

Futebol & sociedade: espelho & reflexo

Vira e mexe os desacertos do futebol brasileiro vêm à tona de modo mais eloquente (numa goleada histórica em Copa do Mundo, numa briga sangrenta entre torcidas, etc), momento em que surgem críticas às coisas do futebol e se cobra correção nas práticas dentro e fora de campo.

Antes de prosseguir, quero deixar claro que sou absolutamente a favor das críticas e de mudanças profundas na estrutura do futebol.

A observação que faço aqui é outra: cobra-se do futebol algo que o Brasil como nação e sociedade não possui. Dito de outra forma, o futebol é nada mais nada menos do que reflexo da sociedade à qual está inserido e da qual faz parte.

Tal constatação se dá quando, por exemplo, o goleiro do Flamento, Felipe, manifesta após uma vitória e um título obtidos mediante um flagrante erro de arbitragem: “Estava impedido, né? Roubado é mais gostoso”.

Pensamento típico de grande parte da sociedade brasileira. Pergunte aos torcedores de Flamengo, Corinthians, etc, se não pensam assim (desde que o “roubo” favoreça o time de cada um, claro).

É a malandragem brasileira em campo.

E em relação à violência? Por que, afinal, o futebol terá paz entre as torcidas se nas ruas o país é violento? E se os próprios protagonistas do esporte (dirigentes, atletas, etc) estimulam rivalidades que vão além das quatro linhas? Quantos jogadores e clubes apoiam as torcidas organizadas, responsáveis por grande parte dos atos de violência envolvendo o futebol?

E quanto à ética, o que falar do comportamento de clubes que atravessam negociações de atletas com outros clubes, “roubam” jogadores da base alheia, técnicos que negociam contratos para o lugar de outros que ainda estão trabalhando?

Estes comportamentos não fazem parte da nossa sociedade?

Infelizmente, a resposta é “sim”.

E assim será enquanto “esta gente aí”, como diz o jornalista Juca Kfouri, estiver no comando. Que mudanças esperar se sai Ricardo Teixeira e entra José Maria Marin? E se sai Marin e entra Marco Polo Del Nero?

E se dirigentes que se dizem rompidos com o “status quo”, caso do ex-presidente do São Paulo, Juvenal Juvêncio, de repente aparecem abraçados com “aquela gente” só porque seu clube foi favorecido em algo?



Que ética é esta em que os valores mudam se o beneficiado for eu?

Que mudanças esperar quando deputados são financiados pelo dinheiro do futebol (via federações e confederação)?

Atenção eleitores: entre os que votaram a favor da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) na Câmara Federal estão Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), Guilherme Campos (PSD-SP), José Rocha (PR-BA), Jovair Arantes (PTB-GO), Rodrigo Maia (DEM -RJ), Valdivino de Oliveira (PSDB-GO) e Vicente Cândido (PT-SP).

Parlamentares de todas as colorações partidárias, para ninguém reclamar. E viva a democracia!

Não sei se será mais fácil mudar o futebol para mudar a sociedade e o país ou se o caminho será inverno, mudam o país e a sociedade para mudar o futebol.

Só sei que é preciso mudar!

* Fotos de divulgação do SPFC

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