quarta-feira, 6 de junho de 2012 | |

Crise e corrupção

No momento em que o governo brasileiro busca alternativas para aquecer a economia após o pífio desempenho no primeiro trimestre deste ano, com aumento de meros 0,2% do PIB (Produto Interno Bruto) em relação ao trimestre anterior,  o jornal “El País”, da Espanha, trouxe na edição desta quarta-feira um interessante artigo que tem muito a nos ensinar – ou muito a ver com nossa realidade.

No Brasil, especialistas têm atribuído o fraco desempenho da economia ao baixo investimento dos governos em geral em infraestrutura. Gasta-se muito em custeio, pessoal e programas sociais e pouco em obras que estimulam a indústria, criam empregos e desencadeiam um círculo econômico virtuoso. Em praticamente todos os setores do governo federal, o nível de investimento este ano despencou – o que inclui o propalado PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).


Há, porém, um outro – e decisivo – fator que escapou das principais análises e que está diretamente ligado aos baixos investimentos (e, no caso do artigo do “El País”, à crise europeia): a corrupção (ou a sensação de corrupção). Dinheiro público que deveria servir para obras vai para o ralo – ou para o bolso de cachoeiras e cuecas de mensaleiros em geral.


Escreve Ricardo Martínez de Rituerto no “El País”, com base em levantamento da ONG (organização não-governamental) Transparência Internacional, que dois de cada três espanhois acreditam que o país seja o mais corrupto da Europa. Para 81%, os partidos políticos são “corruptos” ou “muito corruptos”. A percepção é a mesma entre italianos, portugueses e gregos.


Não é à toa que Espanha, Itália, Grécia e Portugal são os protagonistas da forte crise que atinge e ameaça a zona do euro.


Segundo a TI manifestou em seu mais recente informe, os quatro países sofrem de “uma grave carência de responsabilidade dos poderes públicos e uma ineficácia, negligência e corrupção tão enraizadas pela falta de controle e de punição”. “Já não se pode passar por alto os vínculos entre corrupção e a crise financeira e orçamentária nestes países”, aponta a ONG, conforme o “El País”.


Ainda de acordo com o artigo, a TI apontou – em referência aos quatro países europeus - que “'a corrupção consiste com frequência em práticas legais, mas não éticas' fruto da opacidade das regras que regem os grupos de pressão, o tráfico de influências ou a permeabilidade entre os setores público e privado”.


Alguma semelhança com a realidade brasileira?


Daí que aquecer a economia passa também – e necessariamente – pelo combate a esta mazela chamada corrupção, o princípio de todos os males, da falta de educação e saúde aos altos índices de violência.


Daí entendo, como já registrei neste blog, que o nível de intolerância em relação ao desvio de dinheiro público e aos aproveitadores do erário deve ser máximo.


Em tempo: o informe da TI citado no artigo é o “Money, Politics and Power: Corruption Risks in Europa” (“Dinheiro, política e poder: os riscos da corrupção na Europa”).


PS: o título desta postagem teve uma leve inspiração em uma das obras máximas do russo Dostoiévski, “Crime e Castigo”.

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