Acabei de ler um livro muito especial para mim (história já narrada neste blog): “The virtual self – how our digital lives are altering the
world around us” (algo como “O ser virtual – como nossas vidas digitais estão
mudando o mundo ao nosso redor”), de Nora Young.
A obra aborda um tema extremamente atual. A autora canadense
faz um diagnóstico e, a partir dele, introduz complexas discussões suscitadas pelo
“adorável mundo novo” da tecnologia.
A seguir, algumas anotações que fiz a partir da leitura
(importante: os trechos não são traduções literais).
***
Somos uma sociedade viciada em números, mas ainda não
definimos bem o que pode ser feito com eles, o que significa afinal viver num
mundo digital e ser cidadão.
Tudo começou com o autorrastreamento de dados, que decolou com
a popularização de equipamentos dotados de sensores eletrônicos, cada vez menores
e melhores. A facilidade de uso se somou à possibilidade de compartilhar os
dados, criando uma espécie de “superinteligência global”.
“É uma espécie de jogo que jogamos com nós mesmos para aprender sobre nós mesmos”, disse Carlos Rizo, do projeto “Quantified Self Toronto” (mais aqui).
Ou seja: o virtual ajuda a conhecer o real – e produz
efeitos colaterais, já que ter consciência do que se faz é o primeiro passo
para mudar comportamentos (imagine, por exemplo, no rastreamento de dados sobre
suas atividades físicas).
Como disse Ben Franklin: cria-se um perfeito e detalhado retrato de nós mesmos que, usado apropriadamente, permite checar nosso comportamento. O risco é tornar o corpo um objeto. E o desafio é não perder contato com nosso interior e o mundo real.
Podemos conhecer pessoas e aprender sobre elas sem estar
perto fisicamente. O lado ruim é que perdemos contato pessoal, até com aqueles
de quem gostamos.
E não pense que é possível escolher participar deste “mundo
novo”: só de usar ferramentas digitais você está envolvido numa rede de dados.
O ser humano é, por si, uma criatura compulsivamente social. A diferença hoje é que temos ferramentas para compartilhar informações facilmente. E isto - feito por milhares de pessoas - transforma o mundo.
Atualmente, é possível fazer
o que só sofisticados serviços de inteligência conseguiam: saber exatamente
onde as pessoas estão e deduzir o que estão fazendo. Isto muda a compreensão de
nossa relação com o mundo.
Contudo, o uso das novas tecnologias
envolve complexas regras sociais e há pouca discussão a respeito. Afinal, é possível
que os dados que fornecemos falem mais de quem realmente somos do que as histórias
que contamos.
Dados sobre nossas vidas são importantes
para nós, mas também para outros. A questão que se coloca é: quem vai usar
esses dados e como? Eu tenho direito de guardar e usar uma conversa, por
exemplo?
Estamos diante de uma sociedade
que pode ser muito mais transparente e também mais invasiva. A natureza fácil e
automática de muitas ferramentas significa que não precisamos saber como elas
funcionam para usá-las. Mas se não sabemos como funcionam, podemos estar usando-as
sem cuidado.
Informações colhidas num
contexto, por exemplo, podem ser usadas em outro – e isto pode ser benéfico ou
perigoso.
Por isso, um desafio é criar aplicações
úteis para o uso dos dados.
O fato é que criamos dados e
eles produzem valor.
Atualmente, o compartilhamento de dados não é só a chave do “network
social”, mas também dos negócios.
Há, porém, uma diferença (quase
ética) entre dados que geramos propositalmente e os que fornecemos inadvertidamente.
Precisamos balancear os
modelos de negócio das companhias que querem usar nossos dados, o valor social
dessa informação e, o mais importante, nossos direitos.
As companhias têm que ser
transparentes sobre como estão usando nossos dados – uma relação hoje restrita
aos “termos de serviço” ou “termos de uso” que geralmente avalizamos sem ler.
Este novo ecossistema de informações
exige uma nova política de dados – algo como
o Marco Civil da Internet, aprovado este ano pelo Congresso brasileiro e
considerado referência.
Mas é preciso considerar que
a lei é absolutamente lenta para lidar com a evolução tecnológica. “Precisamos de
um ‘new deal’ de dados”, diz Alex Pentland, do MIT (Instituto de Tecnologia de
Massachusetts).
Uma outra tarefa interessante é pensar em iniciativas não só para tornar dados públicos, mas também para o público criar dados úteis. Isto pode ser uma nova forma de democracia e de tornar mais inteligente a vida nas cidades. Uma espécie de “data democracy”.
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