A seguir, trechos de uma interessante
entrevista do filósofo Vladimir Safatle ao jornal “Folha de S. Paulo”, na qual
ele faz uma análise mais ampla e complexa (distante, portanto, do inútil e
rasteiro “fla x flu” partidário que tomou conta do país:
Vivemos atualmente uma instabilidade política
em meio a comemorações de 30 anos da redemocratização. A democracia brasileira
está consolidada?
Safatle - (...) Apesar disso, é falso
chamar de "democracia incompleta". O certo é dizer que é uma
neodemocracia que gira em torno dos seus impasses há 30 anos. Do final dos anos
1980 até hoje a democracia não se aperfeiçoou, e os seus problemas ficaram mais
evidentes, como a baixa participação popular, um sistema parlamentar que produz
distorções no sistema representativo e perpetuação de castas que interferem no
sistema, interferências econômicas inacreditavelmente altas nos processos
eleitorais. Nesse momento da história, é necessário ter claro o fato de que a
Nova República acabou, morreu.
O que isso quer dizer? Quais são os impactos
disso para o sistema democrático e para o país?
Safatle - A Nova República foi,
entre outras coisas, um modelo de construção pós-ditadura na qual a
governabilidade era compreendida através da cooptação de uma parte da classe
política que se desenvolveu na própria ditadura, e da gestão de toda essa massa
fisiológica da política brasileira vinculada a interesses locais. Foi assim no
governo de Fernando Henrique Cardoso, com apoio de Antonio Carlos Magalhães e
do PFL, e foi assim no governo Lula, com Sarney. Nos dois casos, o PMDB era o
grande gestor da fisiologia política. Esse modelo se esgotou completamente. A
produção de grandes atores políticos, do PT e do PSDB, se desmontou. Esses dois
núcleos se esgotaram por completo. Ninguém mais espera que o processo de
modernização nacional possa ser feito a partir de propostas desses dois grupos.
Os dois já foram testados e demonstraram limites muito evidentes. Ninguém vai
conseguir fazer nada continuando este modelo. O trágico é que quando uma coisa
termina, ela não acaba necessariamente logo, e pode continuar como zumbi, como
morto-vivo, e o país fica paralisado por muito tempo. Nada está acontecendo,
apesar de todos os embates atuais. O fim do modelo é trágico, e leva consigo os
atores políticos, intelectuais e formadores de opinião. (...)
Em tempo: postei apenas dois trechos, como exigido pelo jornal, mas reforço que vale a leitura de toda a entrevista, cujo link está no início da postagem.
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