Acabei de ler o badalado "O capital no século XXI", do economista francês Thomas Piketty. Livro denso, 571 páginas (mais 74 de notas explicativas), principalmente para os que não são familiarizados com termos, fórmulas e lógicas da economia.
Um livro que não pretende ser, como o próprio autor deixa claro, uma verdade absoluta e/ou uma análise completa, mas sem dúvida uma obra extremamente relevante, profunda e necessária. Um bom caminho para a reflexão social, política e econômica (aspectos que Piketty mostram não se dissociarem em nenhum momento da história).
A provocação do título (que remonta ao lendário "O capital", de Karl Marx) é apropriada na medida em que o próprio trabalho do economista francês serve como provocação para um debate - que, espera-se, ocorra.
A seguir, alguns apontamentos do livro:
Um diagnóstico - "O crescimento econômico moderno e a difusão do conhecimento tornaram possível evitar o apocalipse marxista, mas não modificaram as estruturas profundas do capital e da desigualdade (...)". (p. 9)
Uma constatação - "(...) não houve qualquer redução estrutural da desigualdade antes da Primeira Guerra Mundial." (p. 15)
Uma falácia - a "(...) visão otimista da relação entre o desenvolvimento econômico e a distribuição da riqueza" (p. 23), algo que me remeteu ao período do "Milagre Econômico" no Brasil, durante o regime militar (acréscimo meu).
Um problema - "Nas economias que crescem pouco, a riqueza acumulada no passado naturalmente ganha uma importância desproporcional." (p. 32)
Uma transformação - "O capital mudou de natureza - ele era a terra e se tornou imobiliário, industrial e financeiro (...)". (p. 121)
Um contramovimento - "(...) as guerras mundiais e as políticas públicas implementadas pelos países desempenharam um papel central no processo de redução da desigualdade no século XX (...)". (p. 233) "(...) a redução histórica da desigualdade da riqueza foi menos intensa do que às vezes se imagina. (...) Ainda assim, trata-se de migalhas importantes (...)". (p. 256)
Uma constatação perturbadora - "No século XX, foram as guerras que fizeram do passado tábula rasa, e não a suave racionalidade democrática e econômica." (p. 269)
Uma observação - "Evidentemente, a igualdade de direitos e oportunidades não é suficiente para levar à igualdade de riquezas." (p. 355)
Uma "nova era" - "(...) estamos assistindo à volta triunfal do capitalismo privado nos países ricos desde os anos 1970, ou, mais do que isso, ao ressurgimento de um novo capitalismo patrimonial." (p. 171). Isto explica movimentos como o "Occupy Wall Street" (acréscimo meu).
Uma solução 1 - "No longo prazo, a melhor maneira de reduzir as desigualdades do trabalho, além de aumentar a produtividade média da mão de obra e o crescimento global da economia, é sem dúvida investir na formação." (p. 298)
Uma solução 2 - "(...) a instituição ideal que seria capaz de evitar uma espiral infindável de aumento da desigualdade e também retomar o controle da dinâmica em curso seria um imposto progressivo global sobre o capital." (p. 459) "O imposto progressivo exprime de certa forma um compromisso ideal entre justiça social e liberdade individual." (p. 492) "O imposto mundial sobre o capital é uma utopia (...)". (p. 501)
Para se conformar - "Sem impostos, a sociedade não pode ter um destino comum e a ação coletiva é impossível." (p. 480)
quinta-feira, 26 de março de 2015 | Postado por Rodrigo Piscitelli às 07:34 |
Uma reflexão sobre a desigualdade no mundo
Marcadores: economia, livro, Thomas Piketty
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