Um mestre na arte de escrever com a luz.
Nas últimas quatro
décadas, Sebastião Salgado rodou o planeta como “testemunha da condição humana”.
No Kuwait, registrou o “triste espetáculo” dos poços de petróleo incendiados
por Saddam Hussein após a guerra em 1991. Com a série “Trabalhadores”,
homenageou os “homens e mulheres que construíram nosso mundo”.
A trajetória do fotógrafo de 71 anos virou filme. Dirigido
pelo filho Juliano em parceria com o alemão Win Wenders, “O sal da terra”
estreou recentemente no Brasil após concorrer ao Oscar de melhor documentário.
Nascido em Aimorés, Minas Gerais, Sebastião Salgado mudou
para a França em 1969. Premiado em todo o mundo, ele revela no filme um olhar apurado
em busca da melhor imagem. Com suas fotos, denunciou tragédias como a sede e a
fome na África, os horrores do genocídio em Ruanda e o drama dos refugiados.
Chocado com tanta tristeza, apostou num novo projeto: “Gênesis” - uma homenagem ao planeta. Percorreu 30 países em busca de cenas como a do nativo solitário no tronco seco, da imensidão da floresta e da beleza da vegetação refletida na água.
Mas se os homens são o “sal da terra”, à terra devem voltar.
E salgado voltou para a fazenda da família, no vale do rio Doce, onde passou a
infância. E o que viu foi uma terra arrasada. “Os pássaros, os jacarés e a
majestosa mata não existiam mais...”, conta n o filme. “A mata que existia
antes e se estendia por todas essas colinas era a mata Atlântica, a floresta
tropical atlântica”, comenta.
Sem mata, sem vida... “Quando eu era menino, tínhamos uma pequena cascata. Mais tarde derrubaram a mata e a água desapareceu”, fala. Até que a mulher dele resolveu plantar a semente de uma ideia: recriar a floresta que fez parte da história de vida do marido. “Eu me lembro que na primeira plantação às vezes eu sonhava que tudo tinha morrido”, afirma Lélia Salgado.
Foram plantadas dois milhões e meio de mudas. O Instituto Terra
recuperou 600 hectares de mata - uma área equivalente a 780 campos de futebol. Mais
de mil nascentes ressurgiram. “Quando vemos uma árvore, pensamos só em sua
verticalidade e beleza. Mas tudo depende da árvore: nossa água, nosso oxigênio...”,
cita o fotógrafo. A maior batalha na recuperação da fazenda da família Salgado,
porém, não foi vencer a terra seca: foi vencer as mentes, disse Juliano.
Agora, o projeto entra em uma nova etapa. Parcerias feitas pelo Instituto Terra vão garantir o plantio de 125 milhões de mudas nos próximos 25 anos. O reflorestamento será feito ao redor das 370 mil nascentes do rio Doce. O trabalho do instituto é um exemplo de que recomeçar é possível.
Uma lição do
fotógrafo que virou amigo dos gorilas e das baleiras e que vê poesia na força
da natureza. “E pensar que essas árvores, que hoje têm três meses, atingirão o ápice
daqui a 400 anos! Talvez a partir disso possamos medir o conceito da eternidade”,
filosofa Salgado.
* Texto original de reportagem feita para o programa “Repórter Eco” (TV Cultura, dom., 17h30) - reportagem acrescentada em 4/5/15
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* O primeiro vídeo desta postagem é de divulgação
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