Cena 1: uma equipe de TV com três pessoas chega num edifício
para uma entrevista marcada para as 7h num bairro meio “bam-bam-bam” de São
Paulo. O local tem dois seguranças na área externa, fora a portaria. Para
chegar até ela, é preciso enfrentar uma sequência de três “jaulas”, aquele
esquema de abrir uma grade, entrar, esperar fechar para abrir a próxima.
Três sequências para chegar até a portaria! A pé!
Na portaria, um vidro insulfilmado impede visualizar o lado
de dentro. Alguém pede o RG de cada um dos membros da equipe para um cadastro,
que leva cerca de cinco minutos (estariam checando alguma informação junto aos
arquivos da NSA, a agência de espionagem dos Estados Unidos?). Depois, uma foto.
Só então a permissão para voltar as três
grades, pegar o carro e entrar na garagem de visitantes do edifício. Claro,
para o carro, mais uma daquelas “jaulas”.
Na garagem de visitante, um funcionário guia a equipe até o
elevador que dará acesso ao apartamento.
Finalmente a entrevistada abre a porta. E recebe todos com
simpatia e um café. Ufa!
Em tempo: o processo todo durou cerca de 15 minutos.
Cena 2: um casal chega para uma festa de aniversário num
condomínio “bam-bam-bam” de Limeira. Uma fila de três carros aguarda a entrada.
O primeiro deles leva cerca de cinco minutos para entrar.
Quando chega a vez do casal, imagina-se que o acesso será
rápido porque a placa do carro dos convidados teve que ser informada com
antecedência (ou seja, você terá problemas caso decida trocar de carro para ir
à festa).
Mal a jovem diz “oi” e já ouve uma voz impositiva e pouco
simpática ordenar: “Abaixe o farol do carro!”. Depois, o atendente pergunta o nome e
confirma na lista de convidados. Ainda assim, é preciso informar o
número do RG.
Passa o tempo. O atendente - que o casal não vê devido à distância
entre as “jaulas” e a portaria – explica que o sistema “deu pau”. Novamente
pede o RG. Passa o tempo. O atendente repete que o sistema caiu e pede o RG
pela terceira vez.
A jovem informa que a placa do carro já tinha sido passada.
Ele confirma, mas ignora.
Mesmo com o nome e a placa do carro confirmados na lista, foi preciso esperar mais de dez minutos para entrar. E uma nova
fila se formou atrás desse veículo. E ainda veio, claro, a sequência de duas “jaulas”.
Fico imaginando se você convida alguém para jantar na sua
casa e o convidado é obrigado a passar tamanho constrangimento.
E pergunto, em letras garrafais: É ESTA SOCIEDADE QUE ESTAMOS CONSTRUINDO E QUE ESCOLHEMOS PARA VIVER?
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