A cidade é tanto do mendigo
Quanto do policial
Quanto do policial
Todo mundo tem direito à vida
Todo mundo tem direito igual
Todo mundo tem direito igual
(“Rua da Passagem [Trânsito]”, de Arnaldo Antunes e Lenine)
Escrevi várias vezes neste blog a respeito da grandeza de São Paulo, mas a cidade tem também um "lado B" que choca e, de certa forma, incomoda - pena que parece não incomodar a todos.
Já estive em 20 países e não me recordo de ter visto em nenhum deles, do Japão ao Panamá, a degradação humana que vejo em São Paulo. São os “zumbis”. Eles estão por toda parte, vagando pelas ruas ou dormindo - sob frio, chuva ou sol escaldante - nas calçadas, praças, monumentos, nas saídas de vento do metrô, em qualquer canto.
Inicialmente, fiquei em dúvida se o estado “zumbi” era efeito da pobreza ou da droga, mais precisamente do crack. Os mais antigos, ou mais vividos na cidade, garantiram que se trata da segunda opção.
Creio que tenham razão. Após quase duas décadas de estabilidade econômica e, mais recentemente, pleno emprego no Brasil, é difícil entender que tantas pessoas vivam nas ruas, ainda que se trate de uma metrópole com 20 milhões de habitantes (considerando toda a área metropolitana).
Não se vê em Nova York (EUA), Londres (Inglaterra) ou outras correlatas em tamanho, tampouco em locais mais pobres, como a Cidade do Panamá, a “zumbilândia” flagrada na capital paulista.
Considerando, então, que se trata de gente entregue às drogas, temos um retrato acabado da falência do Estado e da sociedade. Sim, porque entra governo e sai governo e ninguém, absolutamente ninguém, é capaz de ao menos propor algo possível para mudar esta chocante realidade.
Não que exista algum lugar no mundo que tenha encontrado uma alternativa viável para lidar com grandes grupos de viciados em drogas, mas São Paulo é quase um "case".
Que fique claro: as drogas, os usuários, o tráfico e os traficantes existem em todos os lugares, em qualquer cidade de médio e grande portes (arrisco-me até a incluir as pequenas cidades e os vilarejos) do mundo. Não se trata, pois, de fenômeno exclusivo paulistano ou brasileiro.
Contudo, em poucos lugares, pouquíssimos eu diria (dos que conheci, seguramente nenhum), vê-se o estado em que a situação se encontra em São Paulo.
É, sem dúvida, uma realidade que choca e causa indignação. Tanto quanto constatar que para grande parte das pessoas (a maioria?) as cenas de degradação humana passem despercebidas.
Em tempo: os termos "zumbi" e "zumbilândia" foram ouvidos de um cinegrafista. Desde então, não encontrei expressões mais adequadas.
PS: esta postagem não tem fotos porque fui alertado para não tentar fotografar os personagens mencionados. “Eles jogam tijolo em carros de TV”, disse um operador.
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