Arrogância, precipitação e superficialidade têm sido, na
opinião de James Fallows, autor do provocante Detonando a Notícia, a marca
registrada de certos setores da mídia. A crítica, contundente e despida de
corporativismo, produziu reações iradas, alguns aplausos entusiásticos e, sem
dúvida, uma saudável autocrítica.
A síndrome não reflete uma idiossincrasia da imprensa
estadunidense. Trata-se de uma patologia universal. Também nossa. Reconhecê-la
é importante. Superá-la, um dever. Fallows questiona, por exemplo, a aspiração
de exercer um permanente contrapoder que está no cerne de algumas matérias. A
investigação jornalística não brota da dúvida necessária, da interrogação
inteligente. Nasce, muitas vezes, de uma enxurrada de preconceitos.
(...) A fórmula de um bom jornal reclama uma balanceada combinação
de convicção e dúvida. A candura, num país marcado pela tradição da impunidade,
acaba sendo um desserviço à sociedade. É indispensável o exercício da denúncia
fundamentada. Precisamos, independentemente do escárnio e do fôlego das máfias
de colarinho branco, perseverar num verdadeiro jornalismo de buldogues. Um dia
a coisa vai mudar. E vai mudar graças também ao esforço investigativo dos bons
jornalistas. Essa atitude, contudo, não se confunde com o cinismo de quem sabe
"o preço de cada coisa e o valor de coisa alguma". O repórter,
observador diário da corrupção e da miséria moral, não pode deixar que a alma
envelheça. Convém renovar a rebeldia sonhadora do começo da carreira. O coração
do repórter deve pulsar em cada matéria. (...)
Fonte: Carlos Alberto Di Franco, “O Estado de S. Paulo”, Opinião, 11/11/13, p. 2 (íntegra aqui).
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