quinta-feira, 14 de novembro de 2013 | |

Que cidade-sociedade queremos, afinal?

Cena 1: uma equipe de TV com três pessoas chega num edifício para uma entrevista marcada para as 7h num bairro meio “bam-bam-bam” de São Paulo. O local tem dois seguranças na área externa, fora a portaria. Para chegar até ela, é preciso enfrentar uma sequência de três “jaulas”, aquele esquema de abrir uma grade, entrar, esperar fechar para abrir a próxima.

Três sequências para chegar até a portaria! A pé!

Na portaria, um vidro insulfilmado impede visualizar o lado de dentro. Alguém pede o RG de cada um dos membros da equipe para um cadastro, que leva cerca de cinco minutos (estariam checando alguma informação junto aos arquivos da NSA, a agência de espionagem dos Estados Unidos?). Depois, uma foto. 

Só então a permissão para voltar as três grades, pegar o carro e entrar na garagem de visitantes do edifício. Claro, para o carro, mais uma daquelas “jaulas”.

Na garagem de visitante, um funcionário guia a equipe até o elevador que dará acesso ao apartamento.

Finalmente a entrevistada abre a porta. E recebe todos com simpatia e um café. Ufa!

Em tempo: o processo todo durou cerca de 15 minutos.

Cena 2: um casal chega para uma festa de aniversário num condomínio “bam-bam-bam” de Limeira. Uma fila de três carros aguarda a entrada. O primeiro deles leva cerca de cinco minutos para entrar.

Quando chega a vez do casal, imagina-se que o acesso será rápido porque a placa do carro dos convidados teve que ser informada com antecedência (ou seja, você terá problemas caso decida trocar de carro para ir à festa).

Mal a jovem diz “oi” e já ouve uma voz impositiva e pouco simpática ordenar: “Abaixe o farol do carro!”. Depois, o atendente pergunta o nome e confirma na lista de convidados. Ainda assim, é preciso informar o número do RG.

Passa o tempo. O atendente - que o casal não vê devido à distância entre as “jaulas” e a portaria – explica que o sistema “deu pau”. Novamente pede o RG. Passa o tempo. O atendente repete que o sistema caiu e pede o RG pela terceira vez.

A jovem informa que a placa do carro já tinha sido passada. Ele confirma, mas ignora.

Mesmo com o nome e a placa do carro confirmados na lista, foi preciso esperar mais de dez minutos para entrar. E uma nova fila se formou atrás desse veículo. E ainda veio, claro, a sequência de duas “jaulas”.

Fico imaginando se você convida alguém para jantar na sua casa e o convidado é obrigado a passar tamanho constrangimento.

E pergunto, em letras garrafais: É ESTA SOCIEDADE QUE ESTAMOS CONSTRUINDO E QUE ESCOLHEMOS PARA VIVER?

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