segunda-feira, 19 de março de 2012 | |

Lembranças do Playcenter...

Quem tem mais de 25 anos de idade certamente viveu, ano após ano, a expectativa das famosas excursões para o Playcenter. O então principal parque de diversões do país, localizado na beira da marginal Tietê na região da Barra Funda, zona oeste de São Paulo, atraía multidões nas décadas de 70, 80 e meados de 90.

Nós, jovens estudantes, passávamos o ano sonhando com o dia da excursão – que dependia sempre da boa vontade de um professor em organizar a viagem (ou seja, ver o custo do fretamento de um ônibus, comprometer-se com isso, cobrar os alunos e depois servir de monitor). Não era tarefa fácil, afinal o tal professor teria a responsabilidade de cuidar de um grupo de 50 adolescentes...

Isso acontecia sempre uma vez por ano, normalmente no segundo semestre (porque a excursão era condicionada ao comportamento da turma). E era preciso autorização por escrito dos pais ou responsáveis.

Os mais afortunados ainda podiam desfrutar de viagens ocasionais ao parque, uma vez por ano ou em alguns anos. Eu, quando pequeno, vez ou outra ganhava – junto com meu irmão – uma ida ao Playcenter. Era sempre um motivo de festa! Aquele parque cheio de brinquedos diferentes parecia na época tão gigantesco, muito maior do que efetivamente era.

Recordo-me das filas enormes na Montanha Encantada, uma atração de barquinhos e bonecos em movimento da qual gostava muito. Também lembro do teleférico que cruzava o parque – íamos sempre minha mãe e eu num carrinho e meu pai e meu irmão em outro. E ainda do show de ursos mecânicos que me encantava, certamente um avanço para a época (todos os anos era a mesma história, a mesma música, mas eu me divertia, principalmente quando um dos ursos dava uma “porrada” – um tapinha, na verdade – num outro urso ou num papagaio, não me recordo, que sempre aparecia para amolar).

A cada ano, novas atrações eram anunciadas e despertavam a curiosidade de todos. Eva, a mulher gigante; Shamu, a Orca Assassina; o Splash, a montanha-russa que dava looping, as Noites do Terror... As duas primeiras não vi (e fiquei muito frustrado). Era novo demais para acompanhar as excursões da escola e, como disse, as idas com meus pais eram esporádicas - custava um pouco caro para uma família ir ao Playcenter (de modo que as vezes em que isto acontecia era sempre uma ocasião especial).

Quando a viagem era marcada, sonhávamos durante dias, combinávamos aventuras com os amigos, montávamos grupos para ir aos brinquedos, planejávamos quantas vezes iríamos em cada atração... Conheci gente que passou a vida sonhando com uma ida ao Playcenter. Acompanhei uma dessas pessoas, uma antiga paquera.

A última vez em que estive lá foi em 1997 ou 98. Acompanhava meu sobrinho em sua primeira ida ao parque, ainda pequeno. Tinha cinco ou seis anos, prometeu não chorar no trem fantasma e saiu de lá quase aos berros, acompanhado da mãe. Naquele momento, o Playcenter já não era o mesmo. Não que estivesse em crise, eu é que tinha crescido. Virei adulto e o parque perdeu o encanto da infância.

Lembrei-me de tudo isso ao ler hoje a notícia de que o Playcenter vai fechar a partir de 29 de julho próximo. Terá encerrado um ciclo de quatro décadas divertindo crianças, jovens e adultos, fazendo-as sonhar e sorrir. Dará lugar a um novo parque com foco no público infantil (mais detalhes aqui).
 
Não sei exatamente quais motivos levaram à decisão de fechar o Playcenter. É sabido que o parque enfrentou uma crise financeira e até de identidade anos atrás. Viu nascer em novembro de 1999 um forte concorrente bem perto, o Hopi Hari, em Vinhedo (a 72 quilômetros da capital) – que tomou-lhe o lugar de principal parque de diversões do país.

Seja como for, para quem tem mais de 25 anos de idade, o Playcenter deixará saudade. Muitos sonhos, muita aventura e diversão (e, em certos casos, muitos beijos de adolescente) foram vividos ali. Não há quem não tenha uma história para contar.

Um amigo costuma dizer que amizade tem começo e fim. Discordo radicalmente dele, mas no caso do Playcenter, a história foi mesmo assim.

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