A informação é hoje um bem precioso, e milhares de pessoas se matam para obter uma, por pequena que seja, não importa sobre o quê.
É preciso ser bem informado, e para isso é preciso uma especial competência: um homem bem informado é um homem poderoso, pois com boas informações se consegue qualquer coisa.
Se for sobre o mercado de capitais, alguns podem ficar ricos ou, para usar uma expressão mais moderna, dar uma tacada que vai garantir toda a sua descendência.
Uma boa informação tem de vir de alguém que está "por dentro" da intimidade dos negócios, da amizade com políticos; pode também vir da amiga da mulher do governador ou da manicure da mulher do juiz, pois quem souber da novidade antes de ela se tornar pública vai poder ligar para dez amigos importantes e contar, para que eles saibam que você já sabia.
Para isso talvez seja preciso ser amigo também do segurança do Congresso, e com tantas e tão ecléticas amizades, não vai ter tempo, jamais, para ir a um cinema ou namorar. E daí?
Pense um pouco: algum poderoso vai contar a você, que não é ninguém, se a taxa de juros vai subir ou descer? Pois é exatamente aí que entram eles, os que têm a capacidade de captar os sinais da mensagem, como se fosse um código.
Para obter a informação, é preciso dar algo em troca, seja lá o que for. É um negócio - como quase tudo na vida.
Para um político tímido e solitário, pode ser companhia; para quem quer ascender socialmente, conhecer as pessoas certas; para certos homens, ser apresentado às gatas. Não, nada de prostituição: bem pior. É, por exemplo, apresentar jovens aspirantes a modelo e, num clima de muito charme, levantar a bola do amigo, levar para jantar, dar muita risada. Isso hoje em dia é profissão.
Cada vez se entende menos o mundo. Houve um tempo em que trabalho era trabalho. Havia hora para começar, para terminar, e todo mundo sabia o que estava fazendo. O carpinteiro tinha seu martelo, seu serrote, seus pregos, quando o serviço estava pronto, entregava e recebia seu dinheiro. Ou era sapateiro, ou costureira, ou médico, ou tinha uma loja.
Era fácil de entender. Hoje, é nos jantares e nas grandes festas que são feitos os negócios.
Mas às vezes é preciso tirar férias de tanta modernidade e ir para um lugar onde a informação não chegue ou, se chegar, não faça quase nenhum sentido.
Um lugar onde não haja carros, nem televisão, onde não existam cinemas, os jornais não cheguem nem existam celulares, nem internet.
Se quiser radicalizar, vá para uma casa no mato, sem conforto, eletricidade, ar-condicionado; um lugar onde as informações cheguem por um vizinho que apareça de manhã, sente na varanda, tome um café - talvez uma cachacinha-, olhe para o céu e diga que acha que vai chover; não soube pelo serviço de meteorologia, mas porque as galinhas acordaram alvoroçadas e o vento está abafado. Dizem que isso ainda existe.
Mas um dia pode dar vontade de voltar, e aí o problema vai ser se inserir de novo no mundo e ver o quanto é importante saber, em primeira mão, se a atriz da novela está ou não grávida.
Em primeira mão significa 30 minutos antes dos outros - e talvez não mais do que 15 depois dela.
O mundo anda mesmo estranho.
Fonte: Danuza Leão, “O mais importante”, Folha de S. Paulo, Cotidiano, 18/3/12, p. 2.
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