Tempo, tempo, tempo, tempo...
Lembrei da grande Maria Bethânia uma hora atrás. Lembrei de um grande amigo fã de Bethânia. Ele sempre me dá bons conselhos. Práticos. Nem sempre os sigo, é verdade, mas só de ouvi-los me areja a mente e me provoca o pensamento.
O tempo tem sido ingrato comigo. Não que eu tema o envelhecimento (embora, confesso, também não o aprecie). Estou sentindo seus efeitos – como a deficiência auditiva que perceptivelmente só cresce. Não é disto, pois, que estou falando. O tempo tem sido um inimigo. Eis a causa de toda minha irritação e angústia, notadamente nos últimos dias. Na semana passada, uma boa cervejada com um amigo-irmão serviu de alento-acalento. Esta semana, não. Nada.
Eis algo que talvez só duas pessoas saibam, só uma certamente percebe. A angústia.
Tudo por causa do tempo, este “compositor de destinos” (salve Bethânia! – ou seria Caetano, o compositor).
Difícil pensar na vida sem trombar com ele, o tempo.
Tenho meus fantasmas – e eles me atormentam. Sou um pouco dramático, eu sei, e isto tem um motivo, cuja raiz só uma pessoa sabe nominalmente qual é (embora, eu tenho certeza, nem ela, a pessoa, saberá mais dizer porque não costuma guardar o que não lhe importa – ou, como lhe disse hoje, esquece o que não dá valor).
Tempo, tempo, tempo, tempo...
Tenho andado irritado. Tenho minhas razões.
Tenho precisado de ouvidos – e pouco os tenho encontrado (uns porque distantes; outros porque insensíveis para perceber que são necessários e importantes).
Sei que me consideram mais forte do que sou. Tenho minha culpa, esforço-me para parecer assim. Sou, porém, como um castelo de areia que se desmancha facilmente no ar.
Não vislumbro futuro porque briguei com o tempo. Não valorizo o passado porque o reconheço imperfeito. Não vivencio o presente porque o renego.
Está vendo? Em todo lugar ele está, o tempo.
Como eu queria que chegassem até aqui, até este trecho do texto. Receio, porém, que terão parado bem antes pensando “o que isto me importa?”. Talvez porque não tenham um pouco de... tempo (eis ele novamente assombrando) para oferecer. Sei bem disso, tenho experimentado esta rusga de egoísmo ultimamente, a dos que não conseguem dispor de um leve sopro de tempo para oferecer a alguém.
Tempo, tempo, tempo, tempo...
O tempo não para, cantou o poeta. “Dá para parar o tempo?”, perguntou-me hoje um amigo. O que fazer do tempo, eis a questão. Sei que dirão “depende só de você”, mas não é bem assim. “Não sou eu quem me navega, quem me navega é o mar...” Sábias palavras entoadas por mestre Paulinho, o da Viola.
Ficamos então assim: eu assombrado pelo tempo, esperando de alguém um pouco de tempo para falar do tempo.
Tempo, tempo, tempo, tempo...
0 comentários:
Postar um comentário