“Game over para o Bumba.”
De um morador do Morro do Bumba, em Niterói (RJ), onde um deslizamento de terra soterrou cerca de 50 casas na última quarta-feira.
Aguardei alguns dias para escrever sobre a tragédia causada pelas chuvas no Rio de Janeiro de modo proposital. Queria apurar dados, evitar manifestações emotivas, que pouco combinam com o rigor jornalístico – embora não pretenda aqui fazer uma reportagem e sim uma breve e simples análise.
O que aconteceu no Rio não pode ser atribuído à natureza. Ponto. Ou não pode simplesmente ser atribuído à natureza. Assim fosse, teríamos que admitir nosso fracasso como sociedade em pleno século 21 e entregar nosso destino às forças naturais.
Claro que elas são decisivas no planeta, basta ver os terremotos. Contudo, sabe-se que o investimento em ciência e tecnologia é capaz de amenizar e até evitar tragédias. Tome-se o terremoto que atingiu recentemente o Chile. Se as forças de prevenção tivessem emitido o alerta de tsunami, muitas vidas teriam sido poupadas.
No caso do Rio, há na tragédia – que causou mais de 220 mortes - uma responsabilidade direta do Poder Público local, que permitiu durante anos a ocupação de áreas de risco. Permitiu por ineficácia e incapacidade administrativa, omissão, negligência, demagogia, populismo e outras coisas do tipo que tanto atrasam o desenvolvimento do Brasil.
Demagogia e populismo que impedem, por exemplo, um fato destacado na recente escolha de Curitiba (PR) como ganhadora do prêmio Globe Award Sustainable City 2010 – dado pelo Globe Forum, uma entidade sueca: continuidade administrativa.
A este fator local (fartamente destacado pela imprensa e claramente visível nas manifestações dos atuais detentores do poder), soma-se outro da mesma gravidade: a falta de preparo do país para prever e prevenir tragédias. O Brasil não dispõe sequer de um sistema de radares que lhe permita fazer previsões meteorológicas mais apuradas e com maior exatidão, como mostram as reportagens a seguir, veiculadas pelo “Jornal Nacional”, da TV Globo, durante a última semana:
Quando os investimentos existem, o resultado é outro, como se vê nesta reportagem do “Fantástico”, da TV Globo:
A conclusão é óbvia: sem investimentos e sem políticas públicas sérias e responsáveis, tragédias como a do Rio voltarão a se repetir no Brasil (basta lembrar que em 2008 foi a vez de Santa Catarina).
Ninguém nunca irá controlar o clima – pois, afinal, não se controla a natureza. Sendo assim, temporais sempre irão ocorrer. O resultado que se terá deles, porém, depende em grande parte das ações – ou omissões – humanas.
PS: registro aqui minha solidariedade ao povo fluminense, vítima do histórico descaso e despreparo dos governos. Afinal, querer culpar quem construiu sua casa, com muito esforço, sobre um lixão ou num morro qualquer é ter uma visão míope do problema.
domingo, 11 de abril de 2010 | Postado por Rodrigo Piscitelli às 21:03 |
Uma tragédia anunciada - e negligenciada
Marcadores: análise, governo, Rio de Janeiro, tragédia
Assinar:
Postar comentários (Atom)
0 comentários:
Postar um comentário