Talvez a discussão mais presente nos últimos anos no que diz respeito à mídia impressa seja a do futuro dos jornais. Será que os meios de papel sobreviverão à crescente tecnologia? Sempre defendi a ideia de que sim, os jornais que investirem em profissionais qualificados e entenderem os novos tempos, vão sobreviver.
Contudo, confesso que fazia essa manifestação com o pensamento de quem cresceu tendo contato com a mídia impressa – e gostando dela.
É preciso, porém, pensar com a mentalidade de uma outra geração. Da nova geração, que nasceu num mundo no qual o telefone celular e a Internet fazem tanto parte do cotidiano quanto o arroz com feijão.
Essa nova posição foi apresentada pelo jornalista José Roberto de Toledo ao responder justamente a uma pergunta sobre o futuro dos jornais durante um curso que estou fazendo.
Como achei interessante, segue a manifestação do Toledo:
“É uma questão geracional. Sabe quantos assinantes de jornal impresso têm menos de 25 anos? Traço. O jornal impresso não tem renovação de base de assinantes, no máximo troca de assinantes da mesma faixa etária, acima de 40 anos. É um fenômeno que constatamos, na FSP, desde 1997, e não mudou de lá para cá. Só se agravou.
Quando minha geração morrer, morre junto o jornal impresso. Somos os últimos dos moicanos assinantes de jornal, porque nos habituamos com ele. Gostamos de pegá-lo, de apalpá-lo, de nos sujarmos com sua tinta, de esbarrar na pessoa ao lado ao tentar abri-lo no ônibus ou no metrô.
Fora o vício, não temos motivo para ler jornal em papel. Ele já está na web antes de chegar à nossa porta ou banca. Pode ser carregado para lá e para cá no notebook, no celular, no Kindle, e, muito brevemente, no iPad (pessoalmente, acho que esse é o suporte definitivo, porque finalmente vai chegar à mesa de café da manhã, ao banheiro e a todos os lugares estranhos em que as pessoas leem jornal.).
A sorte dos jornais impressos é que o meio publicitário brasileiro é o ambiente mais conservador que existe. Não fossem as agências segurarem os anúncios em papel com unhas e dentes para faturar um BVzinho [bonificação paga às agências], os anunciantes estariam debandando bem mais rápido do que estão.
O modelo mudou, o suporte vai mudar e, nós (...) precisamos mudar junto. Ou vamos dançar.”
A isso soma-se outra manifestação, que envolve os jornais gratuitos (seriam eles o futuro da mídia impressa?). Toledo lembra que “fazer jornalismo de qualidade todo dia é caro”, como se vê na manifestação a seguir:
“O aparecimento de jornais muito baratos ou gratuitos no Brasil nos últimos anos embaralhou a discussão sobre o futuro dos jornais em papel. Vamos por partes.
Em primeiro lugar, esses jornais, em grande parte, só existem por causa dos jornais tradicionais, de circulação paga. Ou são subsidiados porque usam as notícias apuradas pelas redações dos jornais-mãe da mesma empresa, ou se alimentam das agências de notícias que são subprotudos dos jornalões. São jornais com custos muito baixos, mas que praticamente só reempacotam o conteúdo apurado por outras redações. A reportagem é quase inexistente. Se as fontes de notícias baratas acabarem, eles sucumbirão por falta do que editar, ou terão que investir em estruturas próprias de apuração, o que multiplicará seus custos e os inviabilizará economicamente. Fazer jornalismo de qualidade todo dia é caro.
Outros vivem de promoções, um fenômeno que já foi usado e descartado por todos os grandes jornais brasileiros. Você começa dando dicionário de presente para novos assinantes e termina vendendo panelas, e dando o jornal de brinde. Quando acaba a promoção, não sobra nenhum dos novos assinantes, que estavam interessados em panela, não em jornal.
Finalmente, nenhum desses jornais têm influência, repercussão. Não dão furos, não interpretam, não analisam, não investigam. Do ponto de vista do interesse público, não fazem diferença. Mesmo que sobrevivessem economicamente, o jornalismo não sobreviveria a eles. Logo, para mim, tanto faz que eles existam ou deixem de existir.
Em essência, a questão que realmente me preocupa é: se a notícia vai ser de graça e a publicidade está sendo pulverizada, quem vai financiar o jornalismo investigativo?
Há algumas alternativas surgindo por aí, como os muitos centros de investigação jornalística, tipo Pro Publica nos EUA, Ciper no Chile, CIJ na Inglaterra. Mas seus modelos são todos baseados em doações, às vezes de uma só pessoa muito rica. Não sei se conseguirão arrumar um jeito de sustentar com as próprias pernas no longo prazo.”
segunda-feira, 26 de abril de 2010 | Postado por Rodrigo Piscitelli às 20:12 |
O futuro dos jornais
Marcadores: análise, futuro, jornalismo
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2 comentários:
quero te dar meus parabéns pelo programa hora informação verdade de hj, vc estava ótimo
Muito obrigado Mayara.
Abraços.
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