quinta-feira, 15 de abril de 2010 | |

O Arquivo Secreto do Vaticano

“Interim vero Deum Optimum Maximum, quem ipsam esse veritatem certissimo testimonio cognoscimus, comprecabimur, ut Sanctitatis Vestre consilia ita informare atque dirigere dignetur, ut quod sanctum, iustum ac verum est a Vestre Sanctitatis auctoritate obtinentes, ab omni alia assequende veritatis molestia liberemur.”
Trecho da carta (foto abaixo) do rei Henrique 8°, da Inglaterra, ao papa Clemente 7°, no qual o soberano pede que a Igreja Católica declare nulo o casamento dele com Catarina de Aragão. Era o início do cisma anglicano. A carta é datada de 13 de julho de 1530

Polêmicas e religião à parte, ninguém há de duvidar que o Vaticano é um dos maiores depositários da história documental da humanidade. Uma visita aos seus museus, arquivos e bibliotecas leva a uma volta ao passado, um passado de reis e papas, um passado que ajuda a contar parte da nossa história.

Para nossa felicidade, parte do acervo do Vaticano está disponível para consulta na Internet. Pelo site oficial da sede principal da Igreja Católica (ou, para quem preferir, de um dos menores Estados do mundo), é possível acessar documentos papais e reais, materiais preciosos e afrescos dos mais ricos da história da arte.

Pintura que mostra o rei francês Carlos Magno (768-814) confirmando ao papa Adriano 1° (772-795) uma doação dos territórios feita pelo seu pai Pepino, o Breve

Para quem gosta de arte, por exemplo, o site oferece uma navegação por dentro da Capela Sistina, onde são realizados os conclaves.

Entre todos os setores do Vaticano, um em especial chama a atenção: o Arquivo Secreto. Só pelo nome ele desperta grande interesse universal. O local guarda desde documentos relativos à história geral do cristianismo até os primeiros documentos de muitas nações.

Se fosse colocado em linha reta, o acervo do Arquivo Secreto atingiria 85 quilômetros em estantes, que contam mais de 800 anos de história. O documento mais antigo é do final do século 8.

Não custa registrar que todo esse patrimônio que agora está na Internet, ao alcance de todos, só foi aberto à consulta de estudiosos em 1881 por ação do papa Leão 13.

Dos principais documentos disponíveis na Internet, estão os dos concílios ecumênicos de 1245 (de Leão 1°), de 1439 (com o decreto da união entre as igrejas grega e latina) e de 1961 (Vaticano 2°); os das grandes universidades do mundo, desde 1254 (Oxford) até 1410 (Budapeste), passando por Avignon (1303) e Cambridge (1318); dos soberanos, como o francês Luís 14 (1693); de eventos célebres, como o Diploma de Otón 1° (de 962) e os Templários (1308); de confissões cristãs, como a excomunhão de Martinho Lutero (1521) e o divórcio do inglês Henrique 8° (1530), que mudaram os destinos da igreja e da humanidade; de figuras ilustres da arte, literatura, música, ciência, política e religião, como um tal Miguel Ángel (1535 e 1550), Mozart (1770), São Francisco de Assis (1223) e Galileu Galilei (1616-33).

Em alguns casos, o site oferece uma ferramenta que permite dar “zoom” nos documentos a ponto de ver os detalhes.

Sem dúvida, é um passeio virtual que vale a pena, independentemente de religião.

A bula “Decet Romanum Pontificem”, na qual o papa Leão 10 excomunga Martinho Lutero, líder da revolta protestante, datada de 3 de janeiro de 1521

Parte do processo contra Galileu (no detalhe, a assinatura do cientista renascentista)

Neste documento, de 1° de setembro de 1535, o papa Paulo 3° chama Michelângelo de “glória do nosso século” e define para o artista uma renda vitalícia de 1.200 escudos de ouro por ano

Detalhe da assinatura de Michelângelo Buonarroti numa carta ao bispo de Cesena, datada de janeiro de 1550

Detalhe do documento do imperador João Comneno 2° (do Império Romano do Oriente ou Bizantino) ao papa Calixto 2° sobre a união das igrejas, enviado de Constantinopla (atual Istambul) em junho de 1139

Em tempo: um dos motivos que faz o Arquivo Secreto despertar tantas curiosidades é, antes de tudo, seu nome. A designação dá a ideia de que o local guarda segredos que podem mudar os rumos da humanidade. Segundo o Vaticano, porém, a origem do nome é muito mais simples e está baseada na língua.

No século 15, chamava-se de secreto (do latim secretum) – tanto nas cortes reais como eclesiásticas – as pessoas ou instituições muito próximas (ou as mais próximas) do príncipe (ou no caso do papa) e sua família. Daí vem o termo secretário (secretarium), nome dado aos auxiliares mais próximos dos monarcas e líderes da igreja, aqueles que detinham a confiança para tratar dos assuntos mais reservados.

Portanto, tudo o que era mais próximo do príncipe ou do papa – fosse a biblioteca, a sala de estar, a cozinha, o jardineiro, etc – recebia o nome de “secreto”.

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