segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010 | |

Limeira: inchaço e desenvolvimento - as décadas do declínio

Uma análise dos projetos habitacionais de Limeira nas últimas décadas é um excelente caminho para tentar explicar a situação de estagnação – decorrente de um inchaço populacional que não foi acompanhado na mesma proporção pelo desenvolvimento econômico – que o município vive desde meados dos anos 90 e que se acentuou na primeira década do século 21.

Desde os anos 1970, a cidade deu abrigo – por meio de casas, apartamentos ou lotes, via governos municipal (prefeitura), estadual (Cohab e CDHU) ou federal (Caixa Econômica) – a 76.185 pessoas. Em quatro décadas, o número poderia até parecer razoável, uma média de 19 mil pessoas a cada dez anos. Razoável se 88,7% do total não tivessem se concentrado nos anos 80, 90 e 2000. Mais que isso: 78,1% das ocupações foram em apenas duas décadas (80 e 90). Ou seja: 59.525 pessoas tiveram acesso à moradia em 20 anos, uma média de quase 30 mil pessoas por década.

Nos anos 80, que tiveram no governo os prefeitos Waldemar Mattos Silveira, o Memau (até 1982), Jurandyr Paixão (83/88) e Paulo D´Andréa (89/92), foram feitos 12 empreendimentos habitacionais em Limeira. Isso representou 4.462 novas unidades entre casas e apartamentos, abrigando 22.310 pessoas (29,3% do total das quatro décadas). Foi o segundo maior período de crescimento de moradias.

Jardim do Lago - 721 casas - CEF - ano 1984 - 3.605 pessoas
Condomínio Mário Souza Queiroz - 320 aptos. - C.E.F. - ano 1982 - 1.600 pessoas
Parque João Ometto (Profilurb) - 261 lotes - C.E.F. - ano 1982 - 1.305 pessoas
Jardim Tancredo Neves - 147 casas - C.E.F. - ano 1988 - 735 pessoas
Parque Nossa Senhora das Dores I - 935 casas - COHAB - ano 1983 - 4.675 pessoas
Parque Nossa Senhora das Dores II - 346 casas - COHAB - ano 1986 - 1.730 pessoas
Parque Nossa Senhora das Dores III - 315 casas - COHAB - ano 1989 - 1.575 pessoas
Parque Victor D’Andréa I - 539 casas - C.D.H.U. - ano 1980 - 2.695 pessoas
Parque Victor D’Andréa II - 523 casas - C.D.H.U. - ano 1983 - 2.615 pessoas
Parque Victor D’Andréa III - 133 casas - C.D.H.U. - ano 1988 - 665 pessoas
Conjunto Hab. Manoel Francisco - 158 casas - C.D.H.U. - ano 1989 - 790 pessoas
Núcleo Habitacional JK de Oliveira - 64 aptos. - P.M.L. - ano 1988 - 320 pessoas

Os anos 90 – que tiveram na prefeitura D´Andréa (até 1992), novamente Paixão (93/96) e Pedro Kühl (97/2000) - lideraram o ranking do inchaço. Embora com um número menor de empreendimentos (dez), o número de imóveis – entre casas, apartamentos, lotes e embriões – foi maior: 7.443. Foram abrigadas 37.215 pessoas, 48,8% do total das quatro décadas, quase quatro mil pessoas por ano.

Jardim Manoel Simão de Barros Levy - 310 casas - C.E.F. - ano 1990 - 1.550 pessoas
Parque Res. Abílio Pedro - 3.437 casas - C.D.H.U. - ano 1992 - 17.185 pessoas
Conjunto Res. Olindo De Luca - 1200 aptos. - C.D.H.U. - ano 1998 - 6.000 pessoas
Jardim Odécio Degan II e III - 154 embriões - P.M.L. - ano 1994 - 770 pessoas
Jardim Res. Bartolomeu Grotta - 302 lotes urb. - P.M.L. - ano 1990 - 1.510 pessoas
Jardim Res. Antonio Brigatto - 164 lotes urb. - P.M.L. - ano 1990 - 820 pessoas
Jardim Aeroporto - 23 lotes urb. - P.M.L. - ano 1992 - 115 pessoas
Jardim Res. Ernesto Kühl - 1.407 lotes urb. - P.M.L. - ano 96/97 - 7.035 pessoas
Jardim Nova Conquista - 166 lotes urb. - P.M.L. - ano 96/97 - 830 pessoas
Jardim Odécio Degan I - 280 embriões - Soc. Com. de Hab. Pop. - ano 1990 - 1.400 pessoas

Nos anos 2000, em que governaram o município Kühl (até abril de 2002), José Carlos Pejon (abril de 2002 a 2004) e Silvio Félix (2005 até hoje), o número de empreendimentos voltou a subir (12), mas eles ofereceram menor quantidade de imóveis. Para se ter uma ideia, só dois projetos habitacionais ofereceram mais de mil unidades nesta década, contra seis nos anos 90 e oito na década de 80. Na década ainda em vigência, foram 1.619 lotes, casas e apartamentos, beneficiando 8.095 pessoas – 10,6% do total das quatro décadas.

Jardim Res. José Cortez - 250 lotes urb. - P.M.L. - ano 2001- 1.250 pessoas
Jardim Res. Antonio Simonetti I - 320 lotes urb. - P.M.L. - ano 2005 - 1.600 pessoas
Jardim Res. Antonio Simonetti II - 160 casas - C.D.H.U. - ano 2004 - 800 pessoas
Jardim Res. Antonio Simonetti III - 160 casas - C.D.H.U. - ano 2004 - 800 pessoas
Conjunto Hab. José Luiz Blumer - 128 aptos. - C.D.H.U. - ano 2004 - 640 pessoas
Conjunto Hab. Pref. Virgínio Ometto - 128 aptos. - C.D.H.U. - ano 2004 - 640 pessoas
Jardim das Paineiras - 120 casas - C.E.F. - ano 2003 - 600 pessoas
Conjunto Res. Porto Fino - 129 casas - C.E.F. - ano 2004 - 645 pessoas
Conjunto Res. Jorge Chamilet - 40 aptos. - C.E.F. - ano 2008 - 200 pessoas
Conjunto Res. Usaldo Candido Ribeiro - 56 aptos. - C.E.F. - ano 2008 - 280 pessoas
Conjunto Res. Bispo Dom Augusto Zini Filho - 32 aptos. - C.E.F. - ano 2008 - 160 pessoas
Conjunto Res. Lazinho Paschoaletto - 96 aptos. - C.E.F. - ano 2008 - 480 pessoas

Desde os anos 70, foram feitas 15.224 novas unidades habitacionais em Limeira, abrigando incríveis 76.185 pessoas – 27% da população atual do município (ou 24% considerando apenas as três décadas em que o crescimento de moradias se concentrou). Isso significa que um em cada quatro residentes em Limeira obteve sua moradia nos últimos 30 anos.

Atualmente, de acordo com o secretário de Planejamento e Urbanismo, Ítalo Ponzo Júnior, há quase 70 pedidos de novos loteamentos protocolados na prefeitura. No ano passado, diz ele, apenas três foram aprovados. Por ano, considerando a taxa de crescimento vegetativo da população, Limeira precisaria oferecer de 2,5 mil novas moradias.

É importante reiterar que os empreendimentos citados aqui referem-se apenas a iniciativas do Poder Público.

Apurar quantas das pessoas beneficiadas com projetos habitacionais já moravam em Limeira e quantas foram atraídas para a cidade num prazo inferior a cinco anos até serem contempladas com moradia é uma tarefa quase impossível (exigiria uma ampla consulta ao banco de dados da prefeitura).

Contudo, os dados disponíveis – e que estão no site da prefeitura - permitem alguns indicativos. E, nesse sentido, talvez não seja mera coincidência o inchaço populacional concentrado nas últimas três décadas e a decadência econômica do município.

Definitivamente, Limeira não cresceu ordenadamente. Inchou. E até hoje paga o preço por uma “política habitacional” que alternou momentos de populismo com outros de frouxidão. Na verdade, paga o preço da falta de uma política habitacional.

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