quinta-feira, 11 de dezembro de 2008 | |

Vossa Mercê, você ou vc?

Em 1 de janeiro (portanto, daqui a alguns dias), entra em vigor a nova ortografia da Língua Portuguesa. Com o passar dos anos, a língua sofre modificações naturais, impostas pelo cotidiano, que a tornam mais prática, digamos assim. Desta vez, porém, as modificações vieram por força de "lei" - com base num acordo firmado entre países de Língua Portuguesa.

O acordo gerou polêmica do lado de cá e do lado de lá do Atlântico, mas esta é outra questão.

Gostaria de me ater nesta postagem às mudanças da língua impostas pela prática cotidiana. São elas que simbolizam de algum modo as mudanças da sociedade. No caso do Brasil, talvez poucas palavras sejam tão sintomáticas nesse sentido quanto "você".

O "você" tem origem, séculos atrás, ainda no Brasil Império, no "Vossa Mercê", um modo que hoje soa formal para tratar alguém não tão formalmente naquela época. As conversas cotidianas transformaram o "Vossa Mercê" em algo como "Vois Mercê". Daí para o "você" foi um pulo (algumas décadas, digamos). Na linguagem falada, porém, o "você" virou, na verdade, "cê".

E foi esta versão mais "econômica" que, nestes tempos modernos, em que a tecnologia impera, ganhou força. Nas conversas pelo computador, o "Vossa Mercê" de séculos atrás virou simplesmente "vc". Uma sociedade hierarquizada, imperial, escravocrata deu lugar a um estado republicano, democrático e liberal.

Até aí não há nenhuma surpresa. O curioso é constatar que essa forma ainda mais reduzida (e, acredito, a máxima redução possível) de "Vossa Mercê" começa a se incorporar à linguagem cotidiana, fora das telas dos computadores. Causou-se um misto de surpresa e perplexidade ver anteontem um cartaz numa loja em um shopping convidar "vc" a mandar um currículo.

Aos poucos, o que era linguagem de MSN e Orkut começa a ir para as vitrinas, para os textos, para os documentos e logo, logo o "vc" estará aí, em todos os lugares.

E "você" (ou "vc"), o que pensa disso?


PS: a imagem desta postagem foi tirada do Blog Brasil Acadêmico.

0 comentários: