segunda-feira, 8 de dezembro de 2008 | |

Sifo ou sifu - uma questão silábica (só?)

"Não me incomoda muito que o presidente da república tenha usado a expressão 'sifo' num discurso no Rio. Conheço pessoas que estavam lá e ficaram revoltadas. Dou-lhes razão. Mas não me abalei muito. Me aborrece mais que todos os jornais do país, ao contar a história, tenham grafado 'sifu'. Não entendo a razão. Me parece que assim os jornais mostraram no mínimo tanta vulgaridade quanto Lula.

'Sifu', assim escrita, é uma palavra oxítona. O 'u' final cria o problema. Ele entrou aí porque palavras relativas a sexo são vistas como sujas: não têm história. O verbo que está abreviado na segunda sílaba da palavra composta não contém a vogal 'u': é 'foder'. Mas leio até em livros eruditos 'culhão' no lugar de 'colhão', 'buceta' no lugar de 'boceta' e 'fuder' no lugar de 'foder'.

'Sifo' é, assim escrita, a palavra paroxítona que o presidente pronunciou - e sua segunda sílaba é a primeira do verbo abreviado. Escrevê-la com um 'u' é transformar a primeira página dos jornais brasileiros em parede de banheiro suja de parada de ônibus. (...) Cariocas e baianos não escrevem 'chuveu' nem pernambucanos, 'cibola'. Não. 'Sifu' é uma indecência oxítona que a imprensa consagrou."

Fonte: "Obra em progresso", blog de Caetano Veloso.

PS: para quem não viu o que o presidente Lula disse em discurso num evento no Rio para justificar seu estímulo ao consumo pelos brasileiros, eis a pérola: "Imagine se um de vocês fosse médico e atendesse um paciente doente. O que você falaria para ele? 'Você tem um problema, mas a medicina já avançou demais. Vamos dar tal remédio e você vai se recuperar', ou você diria: 'Meu, sifu'!".

Pois é, acho que "sifu(demos)". Ou seria "sifo(demos)"?

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