"Domingo passado, enquanto esperava a chamada dos eleitores, saí à Praça do Duque de Caxias (...) e comecei a passear defronte da igreja matriz da Glória. Quem não conhece esse templo grego, imitado da Madalena, com uma torre no meio, imitada de coisa nenhuma? A impressão que se tem diante daquele singular conúbio, não é cristã nem pagã; faz lembrar, como na comédia, 'o casamento do grão-turco com a República de Veneza'. Quando ali passo, desvio sempre os olhos e o pensamento. Tenho medo de pecar duas vezes, contra a torre e contra o templo, mandando-os ao diabo, com escândalo da minha consciência e dos ouvidos das outras pessoas."
("A Semana", 6/11/1892)
Ontem, por exemplo, fui dar um passeio pelo Shopping Iguatemi, em Campinas. Tinha uma compra certa em mente: um tênis - ou mais precisamente um "sapatênis", esta nova modalidade que inventaram e que resultou até em um neologismo. Comprei o dito-cujo. Durante o passeio, obviamente que não resisti a uma passagem pela Livraria Cultura. E eis que me deparo com duas preciosidades, uma delas pesando alguns quilos e com um preço um tanto salgado.
Olhei, informei-me, descobri um desconto bem generoso (25%). Decidi: agora está em minha coleção o mais novo lançamento assinado por Pedro e Bia Corrêa do Lago. "Um tesouro inédito de mais de mil imagens do Brasil finalmente revelado. O maior livro sobre a fotografia oitocentista brasileira", cita a apresentação do livro. Trata-se de "Coleção Princesa Isabel - Fotografia do século XIX".
O livro é isto mesmo: a coleção particular de fotos da princesa Isabel, regente do Brasil. Há muitas fotos de família, de amigos, de viagens pelo mundo e, claro, do Rio de Janeiro e de alguns rincões do Brasil, como Pará e Manaus. De fato, uma preciosidade, uma viagem pelo tempo e pela história.
A outra aquisição eu já conhecia, trata-se também de um lançamento - que mereceu elogios da crítica. "A olhos vistos - uma iconografia de Machado de Assis" foi organizado pelos pesquisadores Hélio de Seixas Guimarães e Vladimir Sacchetta. O livro traz a peculiaridade da visão machadiana por meio de imagens. No ano de Machado, uma bela homenagem. É uma forma diferente de apresentar aquele que foi, sem dúvida, o maior escritor brasileiro. Foi não, é!
Obviamente, o foco do livro é o Rio de Janeiro machadiano - a foto que ilustra esta postagem, por exemplo, mostra a Matriz da Glória (pág. 114). A apresentação é cronológica, o que confere um certo didatismo à obra. Há fotos interessantíssimas, como a de uma ressaca marítima, ilustrada por um trecho de "Esaú e Jacó" (1904).
É, pois, uma obra-prima à altura de Machado. E ele merece!
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