A “Folha de S. Paulo” publicou no caderno “Ilustríssima”, no
fim de semana, uma interessante entrevista com a pensadora
australiana Judy Wajcman, da área de sociologia da “London School of Economics
and Political Science”. Ela fala sobre seu novo livro, "que discute a
influência da tecnologia no ritmo da vida contemporânea”.
A seguir, reproduzo um trecho
(e recomendo a leitura na íntegra a partir do link acima - é preciso senha da "Folha" ou do UOL):
Folha - Como a senhora responde à questão central do livro:
por que as pessoas procuram os aparelhos digitais para aliviar a pressão do
tempo, mas ao mesmo tempo culpam essas mesmas tecnologias por se sentirem mais
pressionadas?
Judy Wajcman - Esse é o paradoxo. E acho que é realmente verdade. Em todas as pesquisas que você conduz, particularmente em empregos gerenciais, mas entre todo mundo, as pessoas sentem que a vida é muito ocupada e acreditam completamente que parte da solução é usar mais o e-mail e ter mais "gadgets", de forma a aproveitar o tempo livre.
Judy Wajcman - Esse é o paradoxo. E acho que é realmente verdade. Em todas as pesquisas que você conduz, particularmente em empregos gerenciais, mas entre todo mundo, as pessoas sentem que a vida é muito ocupada e acreditam completamente que parte da solução é usar mais o e-mail e ter mais "gadgets", de forma a aproveitar o tempo livre.
Creio que as tecnologias sejam muito contraditórias em seus
efeitos. Não quero dizer que as pessoas têm uma falsa consciência, porque elas
têm consciência. Acho que seres humanos são muito capazes de manter visões e
experiências contraditórias, e para mim as tecnologias expressam isso. As
pessoas vivenciam as tecnologias como algo que toma muito tempo, reclamam da
quantidade de e-mails que têm de responder e se queixam das ligações para o
celular, mas estão o tempo todo escrevendo e-mails e fazendo ligações.
Também penso que, numa perspectiva de longo prazo, essas
tecnologias são ainda muito novas e precisamos levar isso em consideração.
Quando comecei a me dedicar às tecnologias, eu trabalhava com a parte
industrial, nas fábricas, e alguém me perguntou sobre o telefone fixo – e eu
nunca nem tinha pensado sobre isso. Eu dava a existência do telefone como um
fato, era parte da vida cotidiana, e nunca poderia teorizar sobre ele, não
pensava que fosse um objeto para a sociologia.
Acho que e-mails e celulares – têm o quê, 15 anos de idade? – são coisas incrivelmente novas. Se tivéssemos essa conversa daqui a outros 15 anos, provavelmente teríamos uma outra percepção. Acho que a novidade é parte da dificuldade para analisá-los. (...)
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