São Paulo é uma cidade que testa a natureza humana. Um lugar
de contrastes - capaz de abrigar numa mesma área o luxo frio do Morumbi e a
pobreza vibrante de Paraisópolis - não pode passar incólume por ninguém.
Andar pela capital paulista e não se indignar com retratos
seguidos e frequentes da mais cruel falta de dignidade humana, exposta como
ferida nas suas calçadas e jardins, embaixo de pontes, passarelas e viadutos,
homens mulheres e crianças em situação de extrema pobreza ou, o que é mais
comum, vencidos pelo vício da bebida e das drogas (com destaque para o crack),
é chocante. (Um cenário bem diferente daquele apresentado na propaganda da prefeitura na TV ou citado em recente artigo de um vereador petista da capital).
Neste sentido, São Paulo é uma cidade feia, difícil, dura,
que amargura, deprime e entristece todos os que ainda têm a capacidade de
sentir.
Ao mesmo tempo, e paradoxalmente, esta mesma cidade abriga
as mais pulsantes manifestações artísticas e de criatividade nas mais diversas
áreas do conhecimento humano (social, ambiental, arquitetônico, etc). O sangue
pulsante do que se define como cidade, ou seja, o lugar do convívio social
coletivo e público, passa pelas ruas da capital. Como metrópole que é, recebe
gente dos quatro cantos do globo – que vêm para mostrar seu trabalho, sua arte
ou simplesmente para passear.
Neste aspecto, São Paulo emana uma energia diferente, comparável
à mesma energia que move a vida. Uma energia que contagia, alegra, estimula e
desperta a alma e o coração de todos os que ainda têm capacidade de sentir.
Lidar, porém, com estas duas cidades (ou estas duas
realidades) misturadas num mesmo ambiente exige um certo distanciamento. Porque
por mais que a capital paulista também tenha segregado à periferia o seu lado
mais sombrio no que diz respeito à pobreza e à ausência do estado, não existem
nela muros capazes de separar estes dois mundos.
E tal como na junção de Paraisópolis com o Morumbi, a região
da estação da Luz (onde fica a Sala São Paulo, reduto cultural da elite
paulistana) abriga o que há de mais belo e de mais horrendo nas paragens de
Piratininga. A arquitetura monumental e histórica da antiga estação Júlio
Prestes e do antigo prédio do Deops (Departamento Estadual de
Ordem Política e Social de São Paulo), São Paulo é tudo isto, tudo junto e misturado. Um cardápio
de tristezas e possibilidades.
Um lugar falido e que renasce (ou resiste) a cada dia. Uma cidade pela qual todos os que ainda têm a capacidade de sentir simplesmente sentem – a alegria da maior metrópole do hemisfério sul e a mais rica da América Latina e a vergonha das entranhas expostas de um país fadado ao fracasso (e que tenta lutar bravamente contra esse destino).
Um lugar falido e que renasce (ou resiste) a cada dia. Uma cidade pela qual todos os que ainda têm a capacidade de sentir simplesmente sentem – a alegria da maior metrópole do hemisfério sul e a mais rica da América Latina e a vergonha das entranhas expostas de um país fadado ao fracasso (e que tenta lutar bravamente contra esse destino).
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