quinta-feira, 11 de setembro de 2008 | |

Obra em Progresso

Porra, escrevi outro dia aqui nesta merda de espaço que sinto prazer em escrever aqui. Para se ter uma idéia, entrei neste blog agora, 1h45, para escrever uma coisa. Só uma coisa. Contudo, já estou com três idéias na cabeça. E vou colocá-las aqui. Porque se ao menos uma pessoa ler, estarei satisfeito. E ainda que ninguém leia, estarei satisfeito do mesmo jeito. Afinal, não escrevo para os outros, escrevo POR mim (reparem, não é para mim, é POR mim).

Tão longo entrei no administrativo, senti-me atraído pelo blog do Caetano Veloso, "Obra em Progresso". Ele tem protagonizado nos últimos dias uma "disputa" com um jornalista que criticou o show feito por ele recentemente com Roberto Carlos em homenagem aos 50 anos da Bossa Nova. A última manifestação de Caetano foi interessante. Reproduzirei-a (em tempo: gostei do trecho "brigar com jornal é brigar para perder").

"LIBERDADE DE IMPRENSA

Meu único problema com as esquerdas é que percebi ser o credo liberal mais resistente historicamente do que o comunista. Assim, a liberdade de opinião - a de imprensa em particular - é (até que um Zizek desses me convença) sagrada. Agradeço a Renato por ter me mostrado o forte texto de Jotabê Medeiros. Lembro que Osias já tinha me dito, educadamente, que achara o texto de Medeiros mais próximo de uma verdadeira crítica musical do que o de Syvia.

Não pense que não sei que seria mais calmo, mais seguro, mais nobre, não comentar os comentários negativos que fazem sobre meu trabalho. Dezenas de vezes já se passou coisa semelhante comigo. Sou escoladíssimo nesses assuntos de reagir à imprensa. Nos anos setenta isso fazia parte de minhas apresentações públicas: eu lia e comentava (inclusive o português) de vários críticos nos palcos dos shows. Achei esse trecho do Jotabê que Renato mandou excelente.

O português está muito melhor e os argumentos são bonitos e corretos. Muitas vezes, ao longo dos anos, já ouvi e li jornalistas dizendo que eu estava pedindo suas cabeças. Quase tanto quanto ouvi de colegas que se sentiram prejudicados por matérias de jornal. Não acredito que tenha o poder de destruir carreiras jornalístcas. O jornalista com quem mais violentamente briguei é ainda, anos depois de ter morrido, o mais influente do país: Paulo Francis. Brigar com jornal é brigar para perder. Quem tem coragem não se incomoda com isso.

Mencionei os editores, no caso do show com Roberto, porque sempre ouvi de jornalistas (e li impresso) que títulos, manchetes e destaques são decididos pela editoria. Muitas vezes ouvi isso em tom de justificativa ou de pedido de desculpas. E disse que algo semelhante significaria, nos Estados Unidos, a demissão do repórter porque esse é um argumento que venho repetindo há anos: se um cara quisesse escrever no New York Times que “o chato do Ray Charles está no Madison Square Garden outra vez” ou “ninguém agüenta mais Tony Bennet”, o editor perguntaria se ele sabia onde estava. Isso é simplesmente verdade, é uma observação antropológica: americanos não acham normal ver desrespeitados os medalhões que são o orgulho do país.

No entanto, já li na Ilustrada, em crítica a que o editor deu meia página, isto: “não ouvi nem vou ouvir o novo disco de Chico Buarque; não preciso disso para saber que não vale nada, repete as mesmas rimas” etc. Informo aos leitores brasileiros que coisas assim só se lêem nos tablóides de rock’n'roll ingleses (porque, mesmo na Inglaterra, no Guardian ou no Times não sai). Agora você acha que estou seguro de que isso só é negativo? Não. Nem isso. Acho graça em o Brasil ser assim esculhambado. É um país punk rock, em que a grande imprensa tem sotaque de tablóide marginal.

Sou um medalhão transviado, como já disse, e me sinto até bem com esse negócio. Mas em linhas gerais me esforço para levar o Brasil a aprender a se poupar mais. Talvez eu não faça a coisa do modo mais eficaz. Mas algo se aproveita. Fico feliz em ver Jotabê respondendo tão bem e encontrando espaço e liberdade para fazê-lo. É disso que eu gosto. Tenho tanto poder de impedi-lo de manter seu posto no Estadão quanto ele de convencer o Itaú a não me contratar. E menos vontade."

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