quinta-feira, 11 de setembro de 2008 | |

Félix e a pobreza alheia

Vou escrever aqui o que não posso escrever no jornal. Lá, tenho o compromisso da imparcialidade e as amarras da lei. Aqui, tenho a liberdade. E assumo as conseqüências. Vou escrever sobre algo de que gosto: política. E quero escrever em alto e bom som:

SILVIO FÉLIX ESTÁ REELEITO!

É isto mesmo. Se alguém quiser usar isso em campanha, eu assumo. Não estou escrevendo como editor-chefe, estou escrevendo como cidadão. É difícil separar estas duas figuras? É, mas não vou ficar calado.

E por que Félix está reeleito? Por circunstâncias, como tudo na vida. Pode-se contestar uma série de coisas do governo dele (e eu contesto - fiz um desafio a um "prefeito mentiroso", que deixou o chefe do Executivo em silêncio até hoje...). Não se pode negar, porém, que Félix tem visão administrativa e política. Soube usar o que o momento lhe dava de bom (um orçamento estrondoso), soube criar receita (veja as cobranças de impostos em atraso e os leilões de coisas inúteis para a prefeitura), soube fazer o que outros não fizeram (não há como criticar a duplicação do Anel Viário e o Parque da Cidade, um dos maiores acertos de sua administração), pegou uma prefeitura razoavelmente em ordem (ao contrário dos antecessores).

Félix cometeu erros? Claro, muitos. Fez terceirizações suspeitíssimas (no caso da merenda, apontada como irregular, superfaturada e direcionada pelo Tribunal de Contas do Estado). Permitiu que o transporte coletivo chegasse ao caos (justamente a área em que dizia ser mais experiente). Faz um governo pouco transparente e que tentou desde o início cooptar a imprensa (ato que conseguiu em muitos casos).

Entre erros e acertos, Félix soube preencher brechas. Soube atender carências da cidade. Tem uma certa visão de futuro (quando parte para o ataque sem se preocupar com eventuais críticas, costuma acertar). É obstinado (disse em 2004 que transformaria a área do antigo paço em obras num parque e eis o resultado).

Junto de tudo isso (e talvez acima de tudo isso), Félix contou com uma oposição inerte. Sim, esta é a melhor palavra. A única pessoa que ousou colocá-lo contra a parece chama-se Ronei Costa, um suplente de vereador que assumiu o cargo por algum tempo. Foi logo colocado de lado, alvo de uma punição ridícula aplicada por uma Câmara subserviente e... deixa para lá.

Como prova mais concreta desta oposição inerte são os adversários dele nesta disputa eleitoral. Talvez nenhum deles saiba, no íntimo, responder à mais simples e elementar das perguntas: o que querem, afinal? Fogem de debates, não têm propostas, não conseguem angariar apoios, não, não, não... Não dá. Nenhum deles! A oposição é tão ridícula quanto o governo.

Não, não vou votar em Félix. Sou contra a reeleição e desaprovo governos envoltos em suspeitas (para usar uma expressão que não compromete). Sobra o quê? Do ponto de vista da consciência individual, sobra a dor do voto em branco. Do ponto de vista coletivo, não sobra nada. Félix está reeleito desde sempre. Pela pobreza alheia.