Cobrir a inauguração do
Templo de Salomão - a nova sede mundial da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) - foi, digamos, um exercício de antijornalismo.
A imprensa foi monitorada,
cercada e vigiada durante todo o evento, que se deu obviamente do lado de
dentro do novo templo, enquanto os jornalistas foram obrigados a acompanhar
tudo do lado de fora, por meio de duas televisões.
Logo na chegada ao templo, a
imprensa era recebida por uma espécie de guia, reunida em grupos de cinco
pessoas (repórteres, fotógrafos, cinegrafistas e auxiliares) e encaminhada ao
local de onde deveria acompanhar a cerimônia – um pequeno espaço demarcado por
grades na lateral esquerda do templo, ao lado de uma espécie de gruta chamada
pela igreja de cenáculo.
Dali ninguém podia sair. Em
tese, a saída era até permitida, mas ouvia-se um alerta: “Quinze minutos antes
da presidente (Dilma Rousseff) chegar ninguém mais poderá entrar. Se você sair,
corre risco de não poder voltar”. Ou seja: melhor ficar onde está.
Pedi a um assessor que
vigiava o acesso ao local reservado à imprensa para ir alguns metros adiante
porque, afinal, tínhamos que gerar para a emissora imagens externas do templo e
a visão de onde estávamos se limitava a uma gigantesca parede lateral, vista
muito de perto, o que reduzia o ângulo da câmera.
Pedido recusado.
O cinegrafista tentou, então,
virar a câmera para a lateral a fim de captar algumas imagens do tal cenáculo.
Foi impedido sob alegação de que “isto não é para hoje”, ou seja, a imagem na
inauguração deveria mesmo se limitar à parede lateral e nada mais.
Um auxiliar quis ir ao
banheiro, tendo sido acompanhado até a porta por um guia-segurança, que o
aguardou e o trouxe de volta ao espaço da imprensa.
Ali, fotógrafos faziam
cliques da tela das TVs enquanto a cerimônia ocorria dentro do templo.
Por fim, o púlpito reservado
para um pronunciamento da presidente acabou se mostrando inútil, já que ninguém
se dispôs a falar com a imprensa.
Na saída, após duas horas de
evento e mais de três horas de “cobertura”, mais uma vez grupos eram formados, de
modo que metade da minha equipe foi embora e eu teria que aguardar um novo grupo
ser formando – o que, naturalmente, não fiz. Irritado, ignorei as ordens e
acompanhei a equipe.
O guia, porém, estava lá,
acompanhando-nos até a saída do templo.
Em tempo: antes do evento, um
comunicado da IURD adiantava que imagens internas estavam proibidas e seriam
cedidas pela TV Record, emissora à qual a igreja é ligada. Eu só não imaginava que
até mesmo do lado externo a imprensa não poderia se movimentar.
Confesso que, mais do que
frustração pelo trabalho limitado, saí de lá irritado – bem como outros
colegas. A sensação era de ter sido convidado para uma festa da qual não pude
participar. Cheguei a citar para um segurança da IURD se eles tinham convidado
a imprensa para ficar vendo um muro...
Até compreendo que as relações da IURD com a imprensa são um tanto conflituosas, mas a falta de gentileza num evento como aquele gerou mal estar. Faltou, sem dúvida, sensibilidade dos organizadores e sobrou a impressão de que havia algo a ser escondido das lentes e olhares dos jornalistas.
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