A longa transição da economia brasileira de um modelo
escravagista para a abolição criou situações inesperadas aos próprios europeus
que, por anos, haviam financiado e lucrado com o tráfico de africanos para as
Américas: o surgimento de “escravos brancos” nos cafezais brasileiros.
Documentos dos arquivos diplomáticos suíços obtidos pelo "Estado" revelam que milhares de imigrantes que chegaram ao Brasil para trabalhar nas
fazendas de café acabaram se transformando, na opinião de seus governos, em
“escravos”. Os casos abriram uma crise diplomática entre a Suíça e o imperador
d. Pedro II, além de revoltas em algumas fazendas e a emissão de um decreto no
país alpino proibindo os suíços de emigrarem para o Brasil.
A situação, porém, não foi criada apenas pelos fazendeiros
brasileiros, mas também pelos governos locais na Suíça, que levaram milhares de
pessoas a optar pela emigração como forma de resolver os problemas internos de
pobreza que sofriam as regiões rurais do país. Para isso, fizeram empréstimos a
idosos, crianças órfãs e até para cegos que, com seu trabalho no “Novo Mundo”,
teriam como quitar as dívidas.
O centro da crise foi o sistema de parceria promovido pelo senador Nicolau Pereira de Campos Vergueiro. Diante da decisão do Reino Unido de proibir o comércio de escravos entre a África e a América em 1845, o preço dos escravos africanos explodiu e passou-se a buscar alternativas. Uma delas foi o sistema criado na Fazenda Ibicaba, em Limeira (SP), em que europeus foram convidados a se mudar ao Brasil para trabalhar. Eram os colonos. (...)
Fonte: Jamil Chade, "Nos cafezais paulistas, os 'escravos brancos'", O Estado de S. Paulo, Economia, 10/8/15.
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