Quando se cobra uma postura mais politizada de artistas e
esportivas de relevo não se pretende apenas que manifestem apoio a protestos populares
ou cobrem autoridades. Espera-se que deem exemplo. Liderança e reconhecimento devem
ser conquistados com atitudes, não apenas palavras.
Pois recentemente o jogador Neymar, talvez o astro maior do
esporte nacional na atualidade, elogiou numa entrevista coletiva o
ex-presidente do Barcelona, seu atual clube, Sandro Rosell.
O dirigente renunciou ao cargo em janeiro após denúncias de
fraude na negociação envolvendo justamente a contratação do jogador brasileiro.
Que Neymar seja grato por Rosell tê-lo levado ao Barcelona é
compreensível; que manifeste que o ex-presidente do clube foi correto com ele,
vá lá; mas afirmar que Rosell “é uma grande pessoa” não soa bem para um atleta
do seu quilate.
Por mais que tenha existido até pouco tempo uma relação de
patrão-empregado, seria de bom grado que atletas de renome como Neymar evitassem
elogios a figuras suspeitas de crimes como Rosell. Não custa lembrar, o ex-presidente
do Barcelona é alvo de várias denúncias de corrupção, como no escândalo
envolvendo o amistoso da Seleção Brasileira contra Portugal ocorrido em
Brasília em 2008 e outros jogos do Brasil.
Por mais que Neymar seja grato a Rosell e goste dele, o que
a sociedade espera de figuras que conquistam relevância em seus segmentos é uma
postura mais ligada ao interesse coletivo. Mais consciência política e menos
preocupação com interesses meramente pessoais.
Esperar isto de jogadores de futebol, porém, soa quase como utopia.
Talvez por isto figuras como o ex-goleiro Marcos, do
Palmeiras, o goleiro Rogério Ceni, do São Paulo, e o zagueiro Paulo André,
ex-Corinthians, ganhem destaque. Porque vão além do lugar comum, assumem
posições em favor de um bem maior ainda que estas possam contrariar seus
próprios interesses.
No mundo artístico o pensamento raso também parece
prevalecer. Li recentemente sobre a polêmica envolvendo declarações do ator (?)
Caio Castro a um programa de televisão. O jovem “astro” disse que não gosta de
teatro tampouco de leitura – especificamente um meio e um recurso de trabalho de
um ator.
Seria o mesmo que um jornalista dizer que não gosta de ler
jornal (tem muitos que realmente não gostam...) ou de estudar questões políticas,
econômicas, culturais e sociais.
A reação indignada de alguns artistas à manifestação de Caio
Castro é compreensível, como também a aparente defesa (sim, porque possui certo
grau de ironia) do jovem feita pelo ator Carlos Vereza:
“Por que não culpar as
televisões que incentivam as carinhas bonitas e sem conteúdo? Por que não
denunciar uma cultura que confunde novo com novidade e encosta atores com larga
experiência com teatro e televisão e com vasta cultura em geral? O Caio e
outros de sua geração fazem o jogo proposto pelo esquema das celebridades
Prét-à-Porter... É isso aí Caio, parabéns por sua sinceridade. Agora, para os
mais velhos: Retiro dos Artistas”.
Como diria o narrador
esportivo Milton Leite: “Que fase!!!”
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