quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014 | |

O que esperar de Neymar e Caio Castro?

Quando se cobra uma postura mais politizada de artistas e esportivas de relevo não se pretende apenas que manifestem apoio a protestos populares ou cobrem autoridades. Espera-se que deem exemplo. Liderança e reconhecimento devem ser conquistados com atitudes, não apenas palavras.

Pois recentemente o jogador Neymar, talvez o astro maior do esporte nacional na atualidade, elogiou numa entrevista coletiva o ex-presidente do Barcelona, seu atual clube, Sandro Rosell.

O dirigente renunciou ao cargo em janeiro após denúncias de fraude na negociação envolvendo justamente a contratação do jogador brasileiro.

Que Neymar seja grato por Rosell tê-lo levado ao Barcelona é compreensível; que manifeste que o ex-presidente do clube foi correto com ele, vá lá; mas afirmar que Rosell “é uma grande pessoa” não soa bem para um atleta do seu quilate.

Por mais que tenha existido até pouco tempo uma relação de patrão-empregado, seria de bom grado que atletas de renome como Neymar evitassem elogios a figuras suspeitas de crimes como Rosell. Não custa lembrar, o ex-presidente do Barcelona é alvo de várias denúncias de corrupção, como no escândalo envolvendo o amistoso da Seleção Brasileira contra Portugal ocorrido em Brasília em 2008 e outros jogos do Brasil.

Por mais que Neymar seja grato a Rosell e goste dele, o que a sociedade espera de figuras que conquistam relevância em seus segmentos é uma postura mais ligada ao interesse coletivo. Mais consciência política e menos preocupação com interesses meramente pessoais.

Esperar isto de jogadores de futebol, porém, soa quase como utopia.

Talvez por isto figuras como o ex-goleiro Marcos, do Palmeiras, o goleiro Rogério Ceni, do São Paulo, e o zagueiro Paulo André, ex-Corinthians, ganhem destaque. Porque vão além do lugar comum, assumem posições em favor de um bem maior ainda que estas possam contrariar seus próprios interesses.

No mundo artístico o pensamento raso também parece prevalecer. Li recentemente sobre a polêmica envolvendo declarações do ator (?) Caio Castro a um programa de televisão. O jovem “astro” disse que não gosta de teatro tampouco de leitura – especificamente um meio e um recurso de trabalho de um ator.

Seria o mesmo que um jornalista dizer que não gosta de ler jornal (tem muitos que realmente não gostam...) ou de estudar questões políticas, econômicas, culturais e sociais.

A reação indignada de alguns artistas à manifestação de Caio Castro é compreensível, como também a aparente defesa (sim, porque possui certo grau de ironia) do jovem feita pelo ator Carlos Vereza:

Por que não culpar as televisões que incentivam as carinhas bonitas e sem conteúdo? Por que não denunciar uma cultura que confunde novo com novidade e encosta atores com larga experiência com teatro e televisão e com vasta cultura em geral? O Caio e outros de sua geração fazem o jogo proposto pelo esquema das celebridades Prét-à-Porter... É isso aí Caio, parabéns por sua sinceridade. Agora, para os mais velhos: Retiro dos Artistas”.

Como diria o narrador esportivo Milton Leite: “Que fase!!!”

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