Nas últimas três décadas consagrou-se um princípio que se
tornou um axioma da política brasileira: "A virtude está à esquerda".
Tornou-se um axioma porque foi subscrito por lideranças que desejavam lustrar a
sua imagem com uma marca da esquerda e por ter sido, silenciosa e
progressivamente, subscrito pelos eleitores em geral.
Os corolários do axioma são visíveis por todo lado: desde a
recuperação da guerra fria num mundo sem guerra fria, a forma peculiar de
entendimento dos direitos humanos e a maneira tolerante de encarar as questões
da segurança pública até a aberta relativização da lei e da Constituição.
Plasmou-se, então, uma retórica política e ideologicamente comprometida, na
qual o uso ou não uso da palavra presidente no feminino já indica a posição
política de quem fala, o termo privatização é substituído por concessão e a
corrupção, pelo mais ameno conceito de malfeito.
Por que esse princípio logrou implantar-se como um axioma na
nossa cultura política? 1) O fim do regime de 1964, da forma como ocorreu,
deslegitimou os partidos de direita e conservadores; 2) a legitimidade do novo
regime democrático concentrou-se no espaço da esquerda do espectro político; 3)
os demais partidos (centro e centro-esquerda) foram submetidos a uma
"demonização em camadas", que os empurrava para a direita. (...)
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