(...) Para o cientista
político Francis Fukuyama, as teorias sobre o desenvolvimento quase sempre
pecam pela "abstração excessiva (o vício dos economistas)" ou pelo
"particularismo excessivo (problema comum a muitos historiadores e
antropólogos)". (...)
Por que o Brasil e outros países latino-americanos enfrentam
tamanha dificuldade para modernizar as suas instituições?
Existem, em primeiro lugar, razões históricas. Os espanhóis
e os portugueses implantaram na região suas instituições pré-modernas. Além
disso, não foram sociedades compostas inteiramente de colonos europeus, mas
sobrepostas, de maneira desigual, a uma vasta população de indígenas, tratados
como escravos. No Brasil, assim como no Caribe, a economia foi moldada ao redor
do açúcar, uma agricultura baseada em grandes propriedades e mão de obra
escrava. Trata-se de um modelo cujo resultado é a desigualdade. Não havia os
incentivos para constituir uma burocracia administrativa de qualidade nas
colônias. Em razão desse estágio inicial de profunda desigualdade, as
instituições foram se moldando para servir às elites. Nunca houve o princípio
de oferecer educação de qualidade a toda a população. Desde que a elite estivesse
atendida, bastava.
Por que outros países, principalmente na Ásia, conseguiram
se desenvolver em um espaço relativamente curto de tempo, ao contrário do que
vemos na América Latina?
O Japão, a Coreia do Sul, Taiwan, todos os chamados Tigres
Asiáticos, possuem população relativamente pequena, muito mais homogênea, além
de um forte senso de identidade nacional. Isso facilitou. Esses países
investiram muito na formação de uma elite burocrática altamente capacitada.
Houve ainda o investimento maciço em educação. Na América Latina,
historicamente mais desigual, a trajetória tem sido mais lenta. Houve avanço no
acesso da população ao ensino, mas persiste um grande desnível na qualidade da
educação, sobretudo aquela oferecida aos mais pobres. Os países asiáticos foram
capazes de resolver essa questão mais rapidamente. (...)
Fonte: Giuliano Guandalini, “A construção da democracia”, Veja, edição 2.344, ano 46, número43, 23/10/13, p. 17, 20-1.
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