terça-feira, 25 de dezembro de 2012 | |

"É preciso humanizar as histórias de violência"

Corpos decapitados. Covas coletivas. Execuções públicas.

Seis anos depois, a guerra contra o narcotráfico no México deixou pouco espaço para a imaginação. Com todos esses atos terríveis de violência, a cobertura do tema desafia os repórteres a ir além das descobertas aterrorizantes.

Foi esse desafio que orientou o trabalho de Erin Siegal, uma repórter da organização Fronteras Desk, em sua cobertura da violência na região da fronteira com os Estados Unidos.

Recentemente, em Tijuana, na fronteira com a o estado da Califórnia, Siegal acompanhou a localização de covas com os restos mortais de pelo menos 100 pessoas. Os corpos foram dissolvidos em soda cáustica.

Na cobertura de uma história como essa, Siegal disse que contextualizar e humanizar as fontes, incluindo um ativista cujo filho desapareceu em 2007, são fatores fundamentais para manter o interesse na história e tornar seus personagens mais próximo.

Em entrevista ao Centro Knight para o Jornalismo nas Américas, ela falou dessa cobertura.

(...) CK: Para você que trabalha na região, houve desafios específicos nessa cobertura?
ES: Acho que é importante que os jornalistas preservem uma certa novidade, um sentimento de surpresa, uma curiosidade em relação a certas coisas. Eu não faço coberturas de assassinatos com muita frequência. Eu tento escolher histórias para contextualizar, então quando algo como isso acontece, não é apenas sobre aquela cena em particular. Sou capaz de ir lá e contar essa história a partir de uma perspectiva mais ampla e acho que isso é muito importante.

(...) CK: Há algo mais que os jornalistas devem consideram ao participarem de tais coberturas ou abordarem pessoa como Fernando, que estão no México todos os dias, buscando respostas?
ES: É importante fazer personagens como esses parecerem próximos e não apenas vítimas. Mas meio que todo mundo envolvido. Investigadores enfrentam seus próprios obstáculos fazendo esse tipo de trabalho. É muito perigoso. Todo mundo, dos soldados aos familiares de desaparecidos. Acho importante fazer essas pessoas saltarem da página, para que se aproximem do leitor, porque as estatísticas são tão fortes. Quando você lê sobre 25 mil desaparecidos, como você entende isso de forma humana? Acho que a única maneira de fazer isso é se concentrar em uma situação ou em certas pessoas e trazer isso para a realidade.

Fonte: Nathan Frandino, "É preciso humanizar as histórias de violência no México, diz repórter que atua na fronteira com os EUA", blog Jornalismo nas Américas, Knight Center for Journalism in the Americas, 13/12/12.

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