O respeitado jornalista inglês Simon Jenkins arriscou, em 4 de janeiro de 1997, um exercício de futurologia no jornal "The Times".
"A internet", ele escreveu, "é mais uma febre que as forças de mercado mais cedo ou mais tarde colocarão no devido contexto. [...] Ela terá seu momento em cena e então assumirá seu lugar na fileira das mídias inferiores."
Àquela altura, prestes a se casar com o escritor Ian McEwan - que conhecera em 1994, numa entrevista para o "Financial Times" -, a jornalista Annalena McAfee trabalhava na editoria de cultura do vespertino "Evening Standard". De dentro de redações de jornal ela testemunhou, desde então, a velocidade com que a internet pôs por terra os devaneios de Jenkins.
"Em março daquele ano, já estava claro que a rede seria o lugar em que as pessoas buscariam informações. Só quis mostrar esse último momento antes da queda", disse ela à Folha, por telefone, de Londres. Não por acaso, é naquele ano que se desenrola a ação de seu romance de estreia, "Exclusiva" [trad. Angela Pessoa e Luiz Araújo, Companhia das Letras, 424 págs., R$ 54], uma sátira ao jornalismo. (...)
Folha - Em "Exclusiva", a sra. critica o jornalismo atual, mas, na trama, a veterana Honor Tait questiona seus métodos do passado. Que velhos vícios se mantiveram e o que piorou?
Annalena McAfee - O velho jornalismo não era livre de problemas. Não é de hoje que o jornalismo tem suas ambiguidades morais. No sentido de, por exemplo, o profissional viver esse limiar entre ser um observador ou um provocador. E, no sentido de alheamento, uma espécie de negação da humanidade, uma capacidade de olhar para as tragédias sem se envolver ou, ainda pior, de torcer por elas. Dito isto, é inevitável considerar a pressão do tempo, as pressões crescentes do jornalismo moderno como um agravante. Décadas atrás, alguém poderia ter duas, três semanas para escrever uma reportagem. Hoje, as pessoas são enviadas para uma pauta em cima da hora, sem falar que nem todas têm capacidade de pesquisa, independentemente do tempo. Os jornais também dão mais importância ao trivial, às celebridades.
Fonte: Raquel Cozer, "Confissões no gravador", Folha de S. Paulo, Ilustríssima, 1/7/12, p. 4 (para ler na íntegra, clique aqui - é preciso ter senha do jornal ou do UOL).
domingo, 1 de julho de 2012 | Postado por Rodrigo Piscitelli às 23:13 |
Jornalismo no divã
Marcadores: Annalena McAfee, Folha, Internet, jornalismo
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