“Estamos en presencia de um quiebre entre la ciudadanía y el mundo político que prácticamente lo desligitima. Una reforma política profunda es imprescindible para recuperar la legitimitad de la representación.”
Roberto Méndez, presidente do Adimark GfK, em entrevista para o jornal “El Mercurio”, de Santiago (Chile), publicada em 25/11/11 na página B 7
Viajar não é só conhecer lugares. É também entender (ou tentar) uma outra cultura. Foi justamente este aspecto o que mais me chamou a atenção numa recente viagem ao Chile.
Nós, brasileiros, sempre ouvimos falar do nível educacional do povo chileno, um dos mais elevados da América Latina. Recentemente, assistimos à disputa entre estudantes e governo, que incluiu uma greve dos alunos que durou seis meses.
Tudo isso eu já sabia e de alguma forma já esperava. O que me surpreendeu mesmo foi constatar a quantidade de protestos do povo. Não há rua que se passe em que não se veja alguma forma de protesto em muros, fachadas, etc.
Grande parte dos protestos é de caráter genérico e puramente ideológico, com frases feitas como “abaixo o capitalismo”, “não ao lucro”, etc.
Há protestos mais diretos contra o que consideram repressão por parte do governo ou contra demissões e supostos arrochos salariais (escrevo “supostos” porque não conheço a realidade do país).
Existem, por fim, protestos que me parecem ser resquícios de uma das mais violentas ditaduras que a América Latina conheceu, comandada pelo general Augusto Pinochet. São mensagens de lembrança, heroísmo e saudade de pessoas que se foram. Mensagens assim foram vistas até nas margens do rio Mapocho, que corta a capital chilena com suas águas cor de achocolatado.
Também chamou a atenção o local onde alguns protestos apareceram. É significativo, do ponto de vista da democracia, ver uma gigantesca faixa em plena fachada de uma das mais tradicionais universidades chilenas, a Universidad de Chile (ou simplesmente "La U”, como dizem os locais).
Mais significativo ainda foi ver outra grande faixa pendurada no alto do Ministério da Agricultura, a dez metros do Palácio de La Moneda , sede do poder Executivo federal (ou seja, o local de trabalho do presidente). Em meio a folhetos com mensagens de protesto (pelo que entendi, partiam de uma central de trabalhadores públicos) jogados do alto do prédio, a faixa dizia: “Piñera miente”.
Em tempo: a pessoa citada é Sebastian Piñera, que vem a ser justamente o presidente da República.
Confesso que não consegui imaginar cenário semelhante no Brasil, algo como uma grande faixa pendurada em alguns dos ministérios da esplanada, em Brasília, dizendo “Dilma mente”. Não, não consegui vislumbrar algo assim, pacificamente como vi em Santiago.
É certo que pouco tempo depois a polícia compareceu ao local e vi inclusive um certo tumulto, mas me pareceu uma reação a um suposto fechamento do órgão público (até porque a tal faixa ficou lá no alto do prédio durante todo o dia).
Talvez a força democrática vista nas ruas de Santiago e nas demais cidades chilenas por onde passei esteja ligada ao elevado nível educacional da população. Talvez ela esteja ligada ao fato do país não abrir mão de acertar as contas com seu passado, sua história (ao contrário do Brasil...). Talvez seja uma bela lição para nós, brasileiros - que vimos recentemente a reitoria da maior universidade do país ser tomada pelos estudantes em protesto contra uma ação da Polícia Militar de repressão ao uso de maconha...
PS: registre-se que se há diferenças claras no que diz respeito à conscientização política entre brasileiros e chilenos, alguns aspectos nos unem. É o caso da desconexão entre os anseios do povo e a ação de seus representantes, como evidencia a manifestação que abre esta postagem.
1 comentários:
Olha o que encontrei: http://migre.me/7bjnx
Abraços!
Ronaldo
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